Na noite do dia dezoito, recebi o telefonema angustiado de um colega advogado, colaborador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA.
O estagiário de seu escritório fora vítima da violência policial, no bairro João de Deus. No dia seguinte recebi o telefonema dele, rapaz muito jovem, com a voz transtornada. Combinei nos encontrarmos à tarde, mas ele sumiu.
Hoje ele me ligou. Faltara ao compromisso porque havia sido sedado. Está visivelmente arrasado pelo trauma que sofreu.
Abaixo, transcrevo apenas um trecho do seu relato, que nos indigna a todos:
"O Requerente, aos Dezoito dias do mês de janeiro de Dois Mil e Doze, estava na residência da Sra ________, localizada na R.___________, João de Deus, quando foi informado pela proprietária da residência de que havia um indivíduo querendo falar com o dono do automóvel que era de propriedade da vítima. A vítima se dirigiu até a porta quando foi indagado por indivíduo (a paisano) de quem pertencia o referido veículo l200 azul que ali estava estacionado. Temendo que fosse um assalto a vítima questionou o motivo da pergunta, quando foi informado que havia uma denúncia de que o proprietário do veículo era traficante e portava drogas no interior do automóvel, diante de tal informação a vítima se identificou como dono do automóvel e negou as acusações, momento este em que o indivíduo que lhe abordara pediu a chave do carro para fazer uma revista pois o mesmo era policial. A vítima então informou que não daria a chave do automóvel, portanto abriria o mesmo após ver algum documento que identificasse aquele indivíduo como policial. Foi então que lhe foi mostrado uma carteira funcional da PMMA em que a vítima só chegou a ler a graduação “Soldado” quando se aproximou um segundo homem já lhe algemando e lhe dando uma cotovelada no seu estômago, dando início a uma série de agressões contra a vítima tais como: socos, tapas e empurrões, além de ser insultado de “marginal, vagabundo, e traficante” durante todo o ato.
Enquanto era agredido, a vítima mesmo cooperando com os outros dois policiais que revistavam seu carro era continuamente agredido pelo policial que lhe algemou; sendo que um quarto homem invadiu a residência em que se encontrava a vítima, segundo o mesmo com o objetivo de encontrar a droga que a vítima supostamente ali tinha guardado. A vítima então pediu por diversas vezes que seu agressor parasse de lhe agredir pois o mesmo não era marginal, não era traficante ou mesmo sequer usuário de drogas, e pediu ainda que se de fato seu agressor fosse policial que parasse de bater na vítima pois o mesmo tinha um tio que podia até ser colega daquele agressor pois seu tio é tenente coronel da PMMA. Ainda agredindo a vítima o seu agressor disse então para a vítima “vai chamar seu coronelzinho pois as porradas que estou te dando ninguém tira”. Revistando o veículo da vítima um dos quatro policiais encontrou um processo judicial e a carteira de estagiário da OAB pertencente a vítima, momento este em que o policial pediu para o agressor parar com as agressões pois a vítima era advogado. Em tom de ironia o agressor relevou tal informação e disse que advogado para ele era merda continuando a agredir sua vítima.
Não encontrando nada no veículo da vítima e muito menos na residência em que se encontrava, o policial continuou as agressões, e por fim tiraram fotos da vítima, do seu veículo e de seus documentos, exigindo ainda que a vítima informasse seu endereço. Ao se deslocarem para o veículo em que estavam (um Voyage Preto) a vítima tirou fotos de seu celular com a intenção de identificar os agressores, sendo que um deles viu a vítima tirar foto, retornou e tomou o aparelho das mãos da vítima retirando e quebrando o cartão de memória do aparelho, apagaram ainda outras imagens registradas na memória do aparelho, e por fim, o seu agressor voltou e tomou o celular da mão do outro policial e deu com o aparelho no rosto da vítima. O agressor ainda informou a vítima que se caso fizesse qualquer tipo de denúncia contra os policiais o mesmo não amanheceria vivo.
Após tomar as providências cabíveis, a vítima dirigiu-se ao Quartel da PMMA, e reconheceu três policiais através de um almanaque que contém fotos e dados dos policiais do serviço velado... "Até quando a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão vai continuar apoiando a existência desse grupo de malfeitores infiltrados na PM?
Até quando o Poder Judiciário vai continuar arquivando os inquéritos onde vítimas denunciam vários integrantes desse grupo?
Até quando nós vamos continuar atendendo vítimas desse grupo, que age impunemente?
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