sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

No Brasil, o povo só sai às ruas para votar?

 


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Há alguns anos que as ruas e praças do Brasil estão à espera do seu verdadeiro povo, mais participativo, mais politizado. Povo apático, que faz oposição nos almoços dominicais e nos recintos fechados de partidos e nas sedes de movimentos sociais é alvo fácil do pensamento autoritário.



(*) Artigo publicado originalmente no blog Escrevinhador

…Isso que, por si só, já demonstraria que o país vai a duras penas construindo seu arcabouço democrático, mostra-se – contudo — insuficiente para enfrentar a luta pelas desigualdades sociais, frágil contra os descalabros e irresponsabilidades da Imprensa, inibido diante dos esbirros corporativistas do Poder Judiciário, incapaz na persistência necessária ao combate efetivo da corrupção (corrompidos e corruptores), nulo na exigência de um comportamento civilizado por parte das Policias Civil e Militar, descrente na mais do que necessária quebra do preconceito entre civis e militares, etc. No Brasil a democracia é tutelada e só deixara de ser com o povo nas ruas…

CUIDADO, BRASIL: EM SÃO PAULO O FASCISMO VAI BOTANDO CADA VEZ MAIS AS GARRAS DE FORA…

Por qual razão o brasileiro não vai às ruas defender os seus direitos, muitos deles ignorados ainda que constitucionais?

Por qual motivo algumas dezenas de mauricinhos e patricinhas vão a “meetings” (particularmente em São Paulo) contra o aumento de impostos ou para denunciar a corrupção apenas do governo federal enquanto os maiores interessados em combater as principais e verdadeiras mazelas da sociedade brasileira não tiram a bunda do sofá, das cadeiras dos bares, dos escritórios, principalmente dos campi universitários, ou para se reunir em seus locais de trabalho por algumas horas, discutir, refletir, fazer greves localizadas não só reivindicativas e trabalhistas de suas próprias categorias, mas também de apoio e solidariedade entre categorias distintas, exercitando a cidadania de maneira objetiva, solidária e não corporativista?

EM 2O12 A LUTA PELA CONTINUIDADE DE TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA SE FARÁ NAS URNAS… E TAMBÉM NAS RUAS

MST, UNE, Sindicatos em geral, Professores, Bancários, Petroleiros, PSOL, PSTU, POC, PSB, PCdoB, PT, Esquerda Católica, Socialistas e Democratas independentes, Militares democratas e socialistas, Rádios Comunitárias, Imprensa Alternativa, Blogs sujos e limpos, Grupos teatrais de Intervenção Social, Teatro do Oprimido, Cineastas Independentes, Jornalistas ainda Conscientes, Internet, Facebooks, Twitters, Celulares, mais de 60 milhões de eleitores elegendo Dilma Rousseff, 80% dos brasileiros apoiando Lula e ainda assim a sociedade brasileira parece não encontrar forças ou os meios necessários para exprimir sua indignação, a sua revolta, o seu desejo de transformação daquilo que herdamos de uma colonização predatória, de um escravagismo dos mais desumanos, de um elitismo aculturado e inútil, de um militarismo subalterno à oficiais da reserva e sufocado pelo passado.

O inconformismo se demonstra na ação.

MEDO? INDIFERENÇA? HIPOCRISIA? DEIXA ESTAR PARA VER COMO E QUE FICA?

Há alguns anos que as ruas e praças do Brasil estão à espera do seu verdadeiro povo, mais participativo, mais politizado, mais ideologizado. Povo apático, que faz oposição nos almoços dominicais e nos recintos fechados de partidos e nas sedes de movimentos sociais é alvo fácil do pensamento autoritário.

Por vezes a falta de convicção ideológica e o desconhecimento da realidade em que se vive nos torna cúmplices das próprias mazelas que gostaríamos de eliminar.

O BRASIL É BEM MAIOR QUE SÃO PAULO E SUA ELITE PRETENCIOSA, ARROGANTE E ANTIDEMOCRÁTICA…

Perdemos a capacidade de mobilização e de manifestação nas ruas como a tivemos nos anos 50 e na primeira metade dos anos 60, não só pela repressão e violência do final dos anos 60 e seguintes, mas — sobretudo — pela maciça campanha de manipulação das novas gerações formadas no contrapé da solidariedade, do nacionalismo sadio, e submetida ao mais genuíno individualismo competitivo. E, não menos importante, na cooptação de alguns milhares de esquerdistas desorientados, “arrependidos” que sucumbiram com a queda do socialismo real e acreditaram nas sereias do fim da História e das ideologias. Ou mesmo daqueles que, fechados em seu “purismo” ideológico, não atentaram para as mudanças à sua volta. A dialética é uma ferramenta necessária da prática política e não uma alegoria teorizante.

A VOCAÇÃO BRASILEIRA PARA SE TORNAR UMA GRANDE NAÇÃO NÃO É UMA QUESTÃO DE CRENÇA…

…mas de luta, trabalho, visão política, quebra de preconceitos, na confiança em nos mesmos, no desmantelamento progressivo dos bolsões de atraso econômico e cultural, resgatando cidadãos humildes para o convívio social e ao mesmo tempo isolando os quinta-colunas, interessados em manter privilégios que já não se justificam numa sociedade que se quer construir: mais igualitária economicamente e democrática politicamente.

O país começa o ano de 2012 com a agressão a um estudante negro dentro da Universidade de São Paulo, com repressão policial e estudantes no norte do país, com o estúpido e violento combate aos dependentes de droga na cidade de São Paulo, com “reality shows” de mulheres granfinas e os idiotizados do tal BBB.

Não é por acaso que, passados duzentos e vinte dois anos na história da humanidade, ainda podemos sentir e entender as vibrações da Revolução Francesa. Ou, com nova sonoridade, os ecos de 1848 na Europa…

“O que está errado, agora, no nosso discurso?
Alguma coisa? Ou tudo?
Com quem ainda podemos contar?
Somos sobras da correnteza viva,
que o rio depositou em suas margens?
Ficaremos para trás, sem entendermos,
sem sermos entendidos por ninguém?
Precisamos ter sorte?
Isso é o que perguntas. Não esperes
resposta a não ser de ti mesmo.”

Bertolt Brecht

Escritor e dramaturgo. Autor da peça “Uma Questão de Imagem” (Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos) e do livro “Teatro de Arena: Uma Estética de Resistência”, Editora Boitempo.

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