sexta-feira, 18 de março de 2011

Um retrato atual das universidades no mundo

Jornal do Brasil

Wanderley de Souza

Mais uma vez a imprensa divulga dados referentes à avaliação das universidades no mundo, conduzida pela Thomas Higher Education. Os indicadores utilizados foram agrupados em cinco grandes itens: 1) atividade de ensino de qualidade, com peso 30; 2) atividade de pesquisa, traduzida em publicações em revistas especializadas, com peso 30; 3) citação dos artigos publicados por pesquisadores da universidade por outros pesquisadores, com peso 32,5; 4) interação com o setor produtivo em projetos de inovação, com peso 2,5; 5) participação de pesquisadores e alunos de outros países na instituição, com peso 5.

Na lista das dez melhores, há forte predominância das universidades norte-americanas. Pela ordem, as melhores universidades no mundo são: Harvard, MIT, Cambridge, Berkeley, Stanford, Oxford, Princeton, Tóquio, Yale e CalTech. Nenhuma surpresa, exceto pela Universidade de Tóquio que, em listas anteriores, não estava entre as dez primeiras. Se a lista seguir até as cem primeiras, o predomínio das universidades americanas, canadenses e europeias vai permanecer, mas surgirão várias universidades do Japão, China, Singapura, Coreia do Sul, Taiwan, Índia e Austrália. Se formos até o final da lista, que inclui 200 universidades, infelizmente, não vamos encontrar nenhuma da América Latina.

No conjunto das 200 melhores universidades, 27 estão na Ásia, com predomínio da China, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Taiwan, e duas na Turquia. A Oceania também está presente com sete universidades da Austrália e uma da Nova Zelândia. A África está na lista com a Universidade de Cape Town (África do Sul) e a Universidade de Alexandria (Egito).

Por que o Brasil não está na lista?

São vários os fatores, entre os quais destaco alguns. Primeiro, não há nenhum empenho especial das universidades brasileiras em se tornarem conhecidas internacionalmente. Coreia, China e Singapura há alguns anos vêm colocando como meta incluir suas universidades entre as 20 primeiras até 2020. Três destas, que antes eram pouco conhecidas, estão hoje entre as 60 melhores da lista. Segundo, as universidades brasileiras em melhor posição não contam com política clara de atração dos melhores pesquisadores do país para integrarem seus quadros. Em cada uma, o salário é o mesmo para os professores de uma mesma categoria. Vigora o regime da isonomia e, dessa forma, a remuneração é igual para quem trabalha e para quem pouco faz. Ou seja, a universidade não aprendeu com o mercado, nem mesmo com os melhores times de futebol. Terceiro, não há o reconhecimento de que a pesquisa científica precisa contar com uma carreira técnica especializada de alto nível e com remuneração próxima à do docente. Esses técnicos são fundamentais para dar apoio à pesquisa em áreas específicas e, sobretudo, na utilização e manutenção de equipamentos de médio e grande porte. Quarto, não se tem dado a devida atenção à manutenção de uma infraestrutura adequada, tanto aos edifícios como aos campi universitários. Quinto, continuamos com sérias dificuldades na importação de pequenos equipamentos e, mais ainda, de insumos básicos necessários ao desenvolvimento de projetos de pesquisa de uma forma competitiva.

Poderia continuar enumerando uma série de outros fatores, mas creio que os cinco mencionados são os mais importantes. Finalmente, cabe reconhecer o enorme esforço que vem sendo feito pelas agências de fomento e que já levaram o Brasil a se inserir entre os 13 maiores produtores de conhecimento. Esta conquista é fruto do trabalho de grupos de pesquisa distribuídos por todo o país.

Temos agora que lutar para que o avanço seja institucionalizado. Neste sentido, faz falta o tradicional apoio institucional praticado pela Finep no passado. Para avançarmos na melhoria do sistema universitário público brasileiro é necessário proceder a algumas mudanças significativas que implicam em romper com interesses corporativos existentes dentro e fora das universidades.





* Professor titular da UFRJ, diretor de Programas do Inmetro, é membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina

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