sábado, 8 de setembro de 2012

Água, o dilema secular

 
O abastecimento de São Luís sempre foi considerado uma questão estratégica, em que fontes e distribuição foram monopolizadas por vários períodos. Hoje, o drama continua
 
A colonização reproduziu os péssimos hábitos de higiene vigentes na Europa. Ao aportarem em terras tupiniquins, os discípulos portugueses não priorizaram o saneamento nas cidades que fundaram, conta o historiador da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Manoel de Jesus Barros Martins. E foi assim até meados do século XVIII.

A colônia não era agraciada com ações relacionadas à saúde e ao saneamento, pois, aos portugueses interessava apenas garantir a exploração colonial. A maior conquista das coletividades foi representada pelo fornecimento de água à população por meio de cisternas, aquedutos, chafarizes e poços.

As pessoas de posse tinham água levada em potes para suas casas, carregados por escravos ou transportados em lombo de animais. Ana Joaquina Jansen Pereira, rica proprietária de terras e imóveis, conhecida pela dureza com que tratava os inimigos e pela autoridade extrema a que tratava seus funcionários. Era detentora de poços, comercializava o item, monopolizando assim o abastecimento por um período. A população pobre conseguia água cada vez mais longe, à medida que a cidade ia crescendo e seus mananciais sendo poluídos.

O sistema de fontes foi uma alternativa para o abastecimento. Entre as fontes a das Pedras tem importância histórica para a cidade.

Foi construída pelos holandeses no século XVII. Ali, as tropas portuguesas acamparam antes da luta contra os franceses, em 1615. Anos após, em 1641, a água da fonte foi canalizada pelos invasores holandeses, antes deles serem expulsos. No século XIX, o Estado começava a assumir os serviços de saneamento transferindo a gestão para a iniciativa privada.

Em busca de lucro, as companhias privadas de saneamento priorizavam os locais onde residiam as elites sociais. Estas companhias fracassaram, principalmente pela insatisfação do povo com a qualidade dos serviços e a abrangência restrita.

A Fonte do Bispo ganhou o nome no século XII. Ela abastecia o palácio do bispo dom Frei Timoteo do Sacramento, preso domiciliar por determinação do governo do Pará, em 1699.

O bispo não podia receber visitas, nem renovar seus mantimentos e em protesto rompeu o cerco e de vasilha em punho foi buscar água nessa fonte, que ficava próxima à sua residência. Já a Fonte do Ribeirão foi tombada pelo Governo Federal em 1950 e resiste ao tempo e se afirma como um dos mais importantes símbolos afetivos de São Luís. A fonte foi construída há quase 200 anos.

O sistema público de abastecimento de água chegou a São Luís em finais do século XIX, ano de 1890. As cidades brasileiras já desfrutavam do beneficio desde o início do período.

São Luís vive hoje o racionamento de água. O abastecimento também é ameaçado pela degradação das fontes de água doce com a poluição de rios, o avanço das aglomerações urbanas sobre os mananciais e a redução do lençol freático com a perfuração indiscriminada de poços. O Sistema Italuís, construído há 30 anos, encontra-se defasado e não supre a demanda. As obras chegaram a ser divulgadas pela Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (Caema) para o segundo semestre do ano passado, mas adiadas.

A empresa responsável seria a mineira S. Engenharia. O orçamento previsto era de R$ 123 milhões e o prazo de conclusão, um ano. Á época, a Caema informou que a licitação e os recursos já haviam sido aprovados pelo Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal (CEF). No projeto serão substituídos 19 quilômetros do trecho entre os km 23 e 42 de Campo de Perizes (que vai de Perizes de Baixo até Estiva). Este intervalo que vem sofrendo constantes rompimentos há pelo menos nove anos e comprometendo o abastecimento na capital.

A reforma da adutora do Sistema Italuís seria a saída para o problema que a capital enfrenta - bairros com água em dias alternados; e áreas sem abastecimento. O Sistema Italuís é composto por adutoras de água bruta e de água tratada, mais estação de tratamento e estações elevatórias. Atende cerca de 60% dos bairros da capital com reforço dos sistemas Paciência e Sacavém. A reportagem procurou a Caema por meio da assessoria, solicitou entrevista com a presidência e sendo orientada a procurar a assessoria, enviou os questionamentos via email, mas não houve retorno até o fechamento da edição.

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