Não é sempre que
um agente penitenciário morre, embora a profissão seja uma das mais arriscadas
do mundo. O mesmo não se pode dizer de presos. Eles morrem com uma frequência
assustadora, quase naturalizada pelo sistema. É possível até perguntar se as
instituições do sistema de justiça criminal querem realmente os presos vivos.
Compromisso com a ressocialização já se sabe que não existe, há muito
tempo.
A
ressocialização de presos é um movimento que incomoda o sistema prisional. É uma
perturbação que contraria muitos interesses. Os presídios não são assim por
acaso. O péssimo funcionamento esconde um vultuoso lucro clandestino, com a
violência, com o medo, com a superlotação, com as condições indignas. Tudo isso
são apenas peças de uma engrenagem cruel, alimentada pelo funcionamento da
sociedade, aqui fora. De modo geral, as pessoas têm a visão de que os apenados
não são capazes de se recuperarem. Daí o estigma e a exploração
interessada.
Nas duas últimas
mortes de presos, ocorridas no sistema prisional de Pedrinhas, muita coisa
precisa ser esclarecida. As notícias que correm na imprensa e nos blogs são
lacônicas ou omissas, a respeito. Ninguém se arrisca a dizer o óbvio. Afinal,
foram apenas dois criminosos pobres, pelos quais ninguém teria
comiseração.
No dia 13 de
setembro, o agente penitenciário Sidney Salgado de Sá, vulgo Valter Filé, de 54
anos, foi morto, dentro de um bar, na Vila Janaína. No dia 19 de setembro,
Rayoni Lino Penha Diniz, vulgo Bob, Fagner Gomes Sena e Valberto Henrique Vieira
Nunes, o Amaral~, foram presos, na Cidade Operária, acusados pelo
crime.
Pois
bem.
Ontem, dia 25 de
setembro, Rayoni e Valberto foram encontrados mortos, na CCPJ de Pedrinhas.
Posso dizer que as circunstâncias da morte são para lá de suspeitas. Rayone
estava no bloco A e Valberto no bloco D, da unidade prisional, mas ambos foram
mortos por enforcamento. Não é difícil imaginar que eles foram executados pelo mesmo motivo. A morte não foi
surpresa, diante da acusação que pesava sobre os dois, mas o sistema foi incapaz
de prevenir a violência, muito embora fosse até provável o que aconteceu. Nesse
caso, o sistema foi cúmplice.
Nada de
justificar a morte do agente penitenciário. Mas também nada de justificar a
vingança, que pode ter sido o provável motivo da morte dos dois presos. Mais
dois presos estão correndo risco de morte, pelo visto, porque estão implicados
nos mesmos fatos: Fagner Gomes Sena e Wanderson Silva Araújo. O Ministério
Público e a Defensoria Pública já solicitaram garantias de vida para os mesmos.
Hoje, a notícia foi a descoberta de um
túnel gigantesco, que estava sendo cavado em direção a uma das unidades
prisionais. Descoberto a tempo, o túnel facilitaria a fuga de cerca de
quatrocentos detentos. Setembro anuncia o começo do retrocesso.
imagens dos
presos mortos de http://www.bialmendes.com/
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