quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A morte anunciada

 
Não é sempre que um agente penitenciário morre, embora a profissão seja uma das mais arriscadas do mundo. O mesmo não se pode dizer de presos. Eles morrem com uma frequência assustadora, quase naturalizada pelo sistema. É possível até perguntar se as instituições do sistema de justiça criminal querem realmente os presos vivos. Compromisso com a ressocialização já se sabe que não existe, há muito tempo.

A ressocialização de presos é um movimento que incomoda o sistema prisional. É uma perturbação que contraria muitos interesses. Os presídios não são assim por acaso. O péssimo funcionamento esconde um vultuoso lucro clandestino, com a violência, com o medo, com a superlotação, com as condições indignas. Tudo isso são apenas peças de uma engrenagem cruel, alimentada pelo funcionamento da sociedade, aqui fora. De modo geral, as pessoas têm a visão de que os apenados não são capazes de se recuperarem. Daí o estigma e a exploração interessada.

Nas duas últimas mortes de presos, ocorridas no sistema prisional de Pedrinhas, muita coisa precisa ser esclarecida. As notícias que correm na imprensa e nos blogs são lacônicas ou omissas, a respeito. Ninguém se arrisca a dizer o óbvio. Afinal, foram apenas dois criminosos pobres, pelos quais ninguém teria comiseração.

No dia 13 de setembro, o agente penitenciário Sidney Salgado de Sá, vulgo Valter Filé, de 54 anos, foi morto, dentro de um bar, na Vila Janaína. No dia 19 de setembro, Rayoni Lino Penha Diniz, vulgo Bob, Fagner Gomes Sena e Valberto Henrique Vieira Nunes, o Amaral~, foram presos, na Cidade Operária, acusados pelo crime.

Pois bem.




Ontem, dia 25 de setembro, Rayoni e Valberto foram encontrados mortos, na CCPJ de Pedrinhas. Posso dizer que as circunstâncias da morte são para lá de suspeitas. Rayone estava no bloco A e Valberto no bloco D, da unidade prisional, mas ambos foram mortos por enforcamento. Não é difícil imaginar que eles foram executados pelo mesmo motivo. A morte não foi surpresa, diante da acusação que pesava sobre os dois, mas o sistema foi incapaz de prevenir a violência, muito embora fosse até provável o que aconteceu. Nesse caso, o sistema foi cúmplice.

Nada de justificar a morte do agente penitenciário. Mas também nada de justificar a vingança, que pode ter sido o provável motivo da morte dos dois presos. Mais dois presos estão correndo risco de morte, pelo visto, porque estão implicados nos mesmos fatos: Fagner Gomes Sena e Wanderson Silva Araújo. O Ministério Público e a Defensoria Pública já solicitaram garantias de vida para os mesmos. Hoje, a notícia foi a descoberta de um túnel gigantesco, que estava sendo cavado em direção a uma das unidades prisionais. Descoberto a tempo, o túnel facilitaria a fuga de cerca de quatrocentos detentos. Setembro anuncia o começo do retrocesso.



imagens dos presos mortos de http://www.bialmendes.com/













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