terça-feira, 3 de abril de 2012

Castigo

Imagen tomada de www.skyscrapercity.com
Depois da tormenta também pode vir a tormenta, o furacão e o tornado. Há alguns dias acreditávamos que o castigo se concentraria entre segunda-feira e quarta- feira, que duraria só o tempo em que Bento XVI estivesse na terra cubana. Vivemos aquelas intensas jornadas entre rezas e gritos, com praças cheias e calabouços abarrotados. Os celulares ao invés de nos brindarem com comunicação se converteram em caixinhas de silêncio, em aparatos inúteis. Só quando o avião do Papa decolou começaram as libertações alguns dos celulares que haviam estado “sem serviço” foram reconectados. Parecia que no sábado e no domingo o cansaço das forças repressoras nos daria um fôlego.
Contudo, todo pai autoritário sabe que depois do castigo o filho opta pela submissão total ou por uma desobediência maior. Em alguns pontos do Oriente cubano aconteceram alguns protestos de rua ante a prisão de ativistas e foi iniciada a onda correspondente de severas punições policiais. Ontem, um grupo de oficiais e membros da Segurança de Estado devastou a casa do opositor José Daniel Ferrer e o levaram bem como a sua esposa e outro colegas. Levou também todo objeto que lhe pareceu desestabilizador: livros, jornais, fotos e computadores. Nenhuma das testemunhas lembra que tenham exibido alguma ordem de registro ou de confisco, muito menos um documento com os motivos da prisão.
Quando o feijão sob os joelhos, os açoites nas costas e a prisão na escuridão já não funcionam, o patriarca despótico sabe que deve pesar a mão. Confia que aumentando a intensidade do corretivo fará o embrião do inconformismo voltar à razão, porém na realidade só consegue que sua rebeldia aumente. Inclusive quem nunca se atreveu a contrariar o governo sente que estes castigos – cada vez mais freqüentes = geram simpatia para o agredido e não para o agressor. Presenciar a repressão acelera deste modo, o processo de cumplicidade entre os cidadãos ante o totalitarismo. Cada golpe que dão em alguém pode despertar o outro que finge dormir placidamente ao seu lado. Juntos têm a oportunidade de encontrar a janela para escapar da prisão – ou ao invés disso – aproximarem-se do momento de expulsar papai de casa.
Tradução e administração do blog em língua portuguesa por Humberto Sisley de Souza Neto
 

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