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A crise do PT não é apenas uma crise de petistas, embora esteja muito relacionada à práticas partidarias arraigadas e posturas de lideranças políticas, sobretudo aos detentores de mandato. Quando frakfurtianos se debatiam com leninistas e trotskistas, os militantes não compreendiam tais divergências como aplicáveis ao seu cotidiano político. Tudo era mais visto como disputa de grupos, em busca de espaços de poder na agremiação partidária. E talvez fosse mesmo, ao julgar pelos escorregões éticos dos revisionistas, que sempre os igualaram aos ortodoxos. O aporte ético no PT foi enriquecido pela contribuição da militância cristã, mas jamais se impôs como referencial unívoco. A esquerda mesmo - aquela dos manuais - sempre torceu o nariz para discussões éticas. Não apenas no PT. E por vezes se faz difícil encontrar diferenças substanciais entre um esquerdista do PT e outro do PSB, do PDT, do PCdoB, e por aí vai. Com a grande debacle petista, as frações ideológicas dispersaram-se em mais siglas, como ocorreu com os trotskistas. A divisão da esquerda em partidos se dá hoje no Brasil por dificuldades internas na democratização dos espaços de poder. Ou seja, por uma questão estritamente ética. Não é por acaso que Whashington ganha cada vez mais adeptos na luta interna do PT. Ele distribui com maestria espaços de poder a partir do governo. Algo que seria impensável, somente com a conquista da máquina partidária. Como a questao ética não é o forte dos que se rendem, o espaço de poder não está associado a esta função. Ele está subordinado a uma necessidade desesperada de sobrevivência politica - os moluscos também agem assim, abstraindo-se a política da vida natural, no último degrau da cadeia alimentar.
O início da inflexão contra ética tem início com a disputa pelas estruturas sindicais. Elas serviram de trampolim para capitalização clandestina de candidaturas e de outras disputas sindicais, em escala geométrica, no melhor estilo delubiano (que foi tesoureiro da CUT). As tendências majoritárias petistas, por exemplo, têm especial predileção pelas estruturas sindicais capitalizadas. O MST foi construído no vácuo desse abandono, na atuação da esquerda brasileira. Coincidentemente, os segmentos mais autênticos da esquerda estão construindo as lutas do campo, mas são uma pequena minoria, até mesmo no âmbito da CUT. O modelo de disputa sindical se impôs ao partido, ou vice-versa. Atrás desse biombo, práticas amplamente institucionalizadas na legislação eleitoral burguesa, como a simples prestação de contas dos mandatários, são sistematicamete tergiversadas, diante do silêncio da militância. No PT, especialmente, o transporte de militantes para votar e a quitação em massa, sempre provocaram certo mal-estar nos setores ideologizados. Mas estas práticas ilegais e antiéticas jamais são questionadas nos pleitos internos, porque largamente utilizadas por todos osgrupos em disputa.
Um exempo da hipocrisia desse setor da esquerda - que faz discursos moralistas no público - mas não se mostra digno de subir num palaque de uma campanha contra a corrupção eleitoral - é o caso dos dezoito salários dos deputados. Dos quinze, para Brasília. Os deputados do Maranhão dizem que o exemplo veio do Congresso Nacional. Então, no Maranhão, eles, além de seguir o péssimo exemplo de Brasília, aumentaram em mais três parcelas a ajuda de custo. E onde estava a esquerda, desde a época em que os meios de transporte eram precários - como disse o Senador Lindemberg Farias? Recebia a excrescência imoral caladinha!
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