Preso em São Luís, Jhonatan deu uma entrevista exclusiva ao repórter Alex Barbosa, exibida no JMTV 1ª edição desta terça-feira (11); assista no vídeo acima.
Segundo a polícia, ele já assassinou mais de 40 pessoas e é um dos maiores matadores do Norte e Nordeste do país. Jhonatan foi preso quase dois meses depois do seu crime mais recente: o assassinato do jornalista Décio Sá, no dia 23 de abril, em um bar na Avenida Litorânea. Ao ser detido pelos policiais, o matador disse ter sido contratado por uma quadrilha de agiotas para matar Décio e revelou ser um pistoleiro de aluguel.
Na entrevista, Jhonatan respondeu com aparente tranquilidade a todas as perguntas. Ele chegou com a barba bem feita e, preocupado com a aparência, pediu que a produção arrumasse a gola da camisa, pois ele queria causar uma boa impressão.
Vida
Jhonatan teve uma infância comum. Foi criado na pequena Xinguara, cidade com 50 mil habitantes no sudeste do Pará, quase na divisa com o Tocantins. Sonhava ser jogador de futebol mas preferiu o caminho do crime. Jhonatan contou que cometeu o primeiro assassinato aos 14 anos e que esse não foi por encomenda.
A polícia diz que, a cada depoimento, Jhonatan deixa escapar mais um de seus assassinatos. Nas contas dos investigadores já são quase 50 vítimas, embora, até o momento, ele responda por 5 homicídios. Jhonatan contou à polícia que foi contratado pela mesma quadrilha que encomendou a morte de Fábio Brasil para matar Décio Sá, por causa das denúncias contra os agiotas que o jornalista vinha fazendo em seu blog na internet. O assassino diz que não sabia que se tratava de um jornalista.
Assassino frio
O secretário de Segurança Pública do Maranhão, Aluísio Mendes, falou que o perfil do assassino impressiona. “De todos os homicidas que se dedicam à morte por encomenda, o que mais nos surpreendeu foi o Jhonatan pela forma como ele narra os crimes e pela total falta de arrependimento”.
O psiquiatra Ruy Palhano analisou a entrevista e afirmou que Jhonatan não sente remorso do que fez. “Desde o começo da entrevista, ele não mudou a expressão. Você não vê qualquer mudança no olhar. E essa coisa de não mudar a fisionomia, não demonstra qualquer remorso, arrependimento por mais horrendo, mais bárbaro, mais agressivo que tenha sido o crime”.
Confira a entrevista que Jhonatan de Souza Silva, assassino confesso do jornalista Décio Sá, deu ao repórter Alex Barbosa:
Na sua definição, quem é o Jhonatan de Souza Silva?
Eu me descreveria assim: uma pessoa não normal pro olho da sociedade, entendeu? Até porque eles me têm assim, como um monstro, eu não me descreveria assim, um monstro porque eu não sou uma pessoa assim, violenta, entendeu? Eu não demonstrava pra ninguém o que eu faço. Pra mim eu sempre vivi assim o mais simples possível, acima de qualquer suspeita. Eu acho que era o meu trabalho,entendeu? O que eu fazia, e eu entendo assim como uma forma natural no mundo onde eu vivia.
Como foi a sua infância?
Minha infância, até os 12 anos de idade, eu morei no interior, na roça mesmo, o meu pai tinha terra. Eu era o mais velho e ficava cuidando dos meu irmãos. Mexia com gado, serviço de roça. Com 12 anos de idade nos mudamos todo mundo pra rua e eu fui estudar. Era uma infância normal mesmo de criança. Eu estudava, brincava com os colegas, jogava bola no colégio, era essa minha infância.
Você era uma criança tranquila?
Tranquila, nunca fui assim estourado, uma criança brigona, não. Já tive uma consfusões de colégio mas nunca fui muito agressivo.
Qual era o seu sonho?
Quando criança todo mundo quer ser jogador de futebol, né? isso é mais ou menos o sonho de todo mundo. Mas, não foi por ai. O caminho foi outro.
A sua relação com seus pais era tranquila?
Era sempre tranquila minha convivência com meus pais. Eu nunca fui agressivo com a minha mãe, nem com meu pai. Sempre respeitei todos os dois. Eu brigava com meu irmão, com a minha irmã, briga de menino, mas o meu pai e minha mãe eu sempre respeitei. Nós somos três irmãos, eu e mais um casal.
Como foi a sua adolescência? foi diferente da adolescência dos outros meninos da sua idade?
Foi diferente assim… eu nunca fui assim de ter muitos amigos, entendeu? Eu tinha poucos amigos e minha adolescência não foi assim mais no meio dos meninos. Eu já ficava mais num mundo já…com um pessoal já do crime.
Como você entrou para o mundo do crime?
Foi conhecimento de pessoas em ruas, o meu pai já tinha separado da minha mãe, eu morava com meu pai, e a gente morando com pai tem mais liberdade do que junto com a mãe, né? O meu pai não era sempre presente, ele trabalhava e eu sempre saia com meus amigos e eu já tinha amigos que se meteram com pistoleiro e morreram em 2005.
Você já tinha referências de gente que já trabalhava com pistolagem?
Eu já tinha conhecimento. Já conhecia.
Isso te influenciou de alguma forma?
Eles assim não, entendeu? Mas eu tinha vontade, entendeu? Dentro de mim eu tinha vontade de ser aquilo porque quem fazia aquilo na época tinha a roupa que queria, tinha uma moto, um carro, as coisas que todo mundo quer ter. Aquilo desperta na gente a vontade de ter também, de estar no meio.
Você tinha medo, preocupação de como iria ser?
Medo assim… eu não tinha medo. Na época eu era muito novo, a pessoa quando é muito novo, geralmente, não tem muito de quase nada, sempre quer estar em aventura.
Como foi a primeira vez que você puxou o gatilho?
A primeira vez foi uma discussão que teve e na mesma da hora eu acabei cometendo o homicídio. Foi lá em Xinguara também, lá onde eu morava.
Quem era? era alguém mais jovem?
Foi confusão, na época. Ele não era novo, não. Eu era novo na época.
Foram tiros?
Foi tiro de 38.
Quantos?
Cinco tiros.
O que você sentia na hora?
Na hora eu sento aquela ansiedade, aquela agonia. Você não fica a mesma coisa, entendeu? é agoniante. A gente só quer sair, se esconder e esperar a poeira baixar.
E tinha gente em volta? Foi premeditado?
Foi premeditado porque não tinha gente não. Tava um dia de domingo e não tinha ninguém na rua, praticamente.
Tinha havido algum desentendimento?
Já tinha havido. Foi programado porque ele tava bebendo, bebeu a noite toda num bar lá, e de manhã cedo foi feito.
O que você sentiu nessa noite?
Nessa noite eu fui pra outra cidade, fiquei lá até a noite, até escurecer. Não deu nada, não saiu conversa, não saiu nada e eu voltei. Fui embora não, fiquei por lá mesmo.
E ficaram sabendo que foi você?
Ninguém ficou sabendo. Só que quem sabia nós éramos amigos, convivência. Em casa meus pais não sabia, meu pai, nem minha mãe.
Em algum momento você se arrependeu?
Não. Na época não.
Quando você matou pela primeira vez, você sentiu que poderia matar outras vezes?
Senti. Já senti a partir do primeiro. O difícil é o primeiro, depois do primeiro já se torna vontade.
Você sentia vontade de fazer isso?
Vontade assim, de estar no meio, de fazer aquilo por dinheiro, pra obter dinheiro.
Você dormiu bem naquela noite?
Assim, foi de manhã né? eu tinha passado quase a noite acordado, dai passei o dia acordado e fui dormir a noite que quando eu voltei eu tava cansado. Ai eu dormi tranquilo.
Você chegou em algum momento a pensar que ele tinha família? Isso passa pela cabeça de alguém que mata?
Eu fiquei sabendo assim, que ele tava lá pra matar um amigo meu, entendeu? Ele era matador também. Além da confusão ele tava lá pra matar um amigo meu.
Nesse caso você fez sem peso na consciência?
Sem peso na consciência.
Você tem ideia de quantas pessoas já matou?
Eu já perdi a conta, eu tenho uma base, mas eu não quero falar quantos são.
Mais de quarenta?
Eu não quero falar.
Quando você decidiu virar um assassino de aluguel?
Depois que aconteceu isso, eu fiz isso junto com um pistoleiro e depois disso apareceu uns convites. Ele que fazia a negociação. Eu pilotava a moto pra ele matar. Pilotei várias vezes. Ai depois ele morreu, em 2005. Ele e um parceiro dele. Ai de 2005 pra frente eu já comecei a matar.
Como é a contratação do serviço?
É sempre alguém que vai e entrega a foto e me dá, mais ou menos, o paradeiro da pessoa, o lugar aonde acha mais fácil. E ai a gente investiga e sempre encontra.
Essa investigação demora muito?
Depende muito. Se a pessoa se encontrar na cidade fica mais fácil. Mas já teve muita gente de ir atrás e não achar, largar de mão.
O que você sente quando você aperta o gatilho?
O que eu sinto?
Isso.
Não dá pra descrever o que se sente. No passar do tempo se torna uma coisa comum, não afeta, não abala assim tanto mais como da primeira vez que se faz.
Teve alguém que ja pediu para você não fazer?
Não porque sempre é localizado. Chega, mata e vai embora. Não tem isso de pegar, sequestrar e a pessoa chegar e implorar pela vida, não. É sempre muito rápido.
Você tem uma marca sua, uma assintura?
É…tem assim..na cabeça, né?, o lugar de matar é na cabeça. Na cabeça é garantia da morte.
Sempre mais de um?
Sempre três.
Teve alguma vez que você não queria fazer, depois de ter pesquisado sobre a pessoa?
Humm… (pausa) não que eu tenha lembrança.
Jhonatan, você tem medo de alguma coisa?
Tenho, de morrer, né? Todo mundo tem medo de morrer, quem não tem?
Por quê?
Assim, pela vida que eu vivo, ninguém nunca tem a certeza da vida. Eu vivo uma vida que você sabe que qualquer hora pode morrer. Por isso que eu não tenho muitos amigos, até. Eu não ando em qualquer lugar.
Você já pensou em parar?
Já tinha pensado em parar. Inclusive quando eu saí em outubro, eu tinha saído decidido a não matar mais ninguém. De viver minha vida diferente, de ter outra vida. Mas, devido a alguma influências, eu não vou citar nome de ninguém e eu jamais citaria. A gente acostumado a viver bem, com dinheiro, acabei me envolvendo de novo e foi onde eu acabei com a minha vida de vez.
Você gosta de matar?
Se eu gosto? Era o meu trabalho.
Você gostava do seu trabalho?
Era uma profissão. Era o meu trabalho, foi o que eu me acostumei a fazer. Então, era o que eu fazia.
Você acha que você fazia bem?
Acho que sim.
Você sentia prazer?
Prazer, não. Ninguém sente prazer em matar. Mas era o que eu fazia.
Você tem quantos homicídios que a polícia sabe que foi você, que estão confirmados?
Cinco. Dois em Santa Inês, um em São Luís, um em Xinguara e um em Teresina. Esse de Xinguara eu sou suspeito, estou sendo investigado pela polícia. Esse em Santa Inês foram duas pessoas,confusão de bar. Duas pessoas foram presas comigo, que não tinham envolvimento, mas que responderam processo, mas fui eu que cometi o homicídio. A gente tava jogando sinuca e era apostado. Vinte reais. Ai ele tava perdendo, ele e uma outra pessoa, e na última rodada ele derrubou a bola e disse que o jogo tinha acabado. Ai eu pedi pra ele devolver o meu dinheiro que ele não tinha ganho. Ele disse que não ia devolver. Eu perguntei se ele não ia devolver o dinheiro e ele disse que não ia devolver, não. Ai minha namorada me puxou. Eu fui no banheiro e fiquei lá uns dez minutos. Peguei minha moto, fui em casa, busquei minha pistola e matei os dois.
Quantos tiros?
Foram seis tiros. Três em cada um.
Nesse caso você foi preso?
Fui preso no mesmo dia. Eu sai de habeas corpus.
Ai você pensou em parar?
Pensei. Porque eu já tinha sido preso duas vezez e tinha gastado muito dinheiro. Tudo com advogado.
Você ganhou muito dinheiro?
Nunca ganhei, não.
Mas os valores não são altos?
Alto assim nunca teve, não. Alto mesmo foram só esses dois aí e não foram pagos. Por isso que deu no que deu.
Tem alguma tabela? qual é o preço médio de um crime desses?
Depende da pessoa, do que ela é.
Uma pessoa comum seria quanto?
Comum eu não digo assim. Ninguém morre de graça. Eu não vou matar uma pessoa só por matar. Tem que ser uma pessoa que já deve ter feito alguma coisa. Então ela tem que ta morrendo, pagando pelo que ela fez.
Tem motivo que você recusa?
Tem. Um pai de família, por exemplo, eu já recusei. No mundo que a gente vive, no mundo do crime, tem suas leis.
Caso Décio Sá
Como foi a contratação?
Diz que tinha ele pra matar. Que ele era um fuxiqueiro, que metia o nariz em todo lugar e que tava prejudicando muita gente, e ele teria que morrer. Ele disse que ele era um blogueiro, não disse que ele era um jornalista. Falou o lugar onde eu poderia encontrar ele. O lugar era o João Paulo, era uma rádio comunitária que ele frequentava. Só que não era ele. Já no terceiro dia, ele disse que eu poderia achar ele na Mirante, só que ele não disse que ele era jornalista, ele disse que ele frequentava a Mirante. Eu fiquei num quiosque na praia esperando dar nove horas, quando deu o horário não demorou nada ele saiu. Aí eu segui ele.
Como foi a execução?
Eu entrei, ele tava sentado falando no telefone, aí eu arranquei a pistola e ele tentou correr. Aí eu atirei nele. Foram cinco tiros, três na cabeça.
Por que você não escondeu o rosto?
Eu não escondi meu rosto porque eu achava que não ia dar em nada. Eu não sabia que ele era um jornalista, eu achava que ia ser igual ao do Fábio Brasil. Aí eu fugi, subi na garupa da moto, vi uma viatura e pedi pra ele encostar. Subi o morro, troquei de camisa, enterrei a pistola.
Por que você havia dito que jogou a pistola no mar?
Eu disse porque ela veio de um capitão da polícia, que foi envolvido no crime. Ela foi dada pro Bolinha e eu comprei ela dele. Eu tinha esperança que através dessa pistola eles poderiam pagar o meu dinheiro. Se não me dessem meu dinheiro eu ia entregar a pistola. Ai depois eu perdi as esperanças.
O nome de alguma pessoas acabaram sendo envolvidos nesse caso, como o de um deputado, como você ficou sabendo da existência dessas pessoas?
Foi o Bolinha que comentou. No dia da contratação do Fábio Brasil ele já tinha mencionado o nome do Gláucio, do Miranda, e do capitão. Depois, quando eu fui pra fazer o Décio ele chegou a citar o nome do deputado, Raimundo Cutrim. Eu não tenho a certeza, entendeu? Eu ouvi ele dizer.
Em que contexto o nome do deputado foi citado?
A gente tava bebendo e ele é daqueles assim, de querer se “amostrar”. Ele dizia “ah, o nosso grupo é forte”, que ele podia fazer e acontecer que ficava por isso mesmo. Devido disso, ele chegou a citar o nome dele, dizendo que ele era o principal mandante.
Após cometer o crime, como você foi pra casa?
Eu andei uma longa distância e no meio do caminho eu fui pra casa. Ai eu cheguei e fiquei tranquilo em casa. Quando eu cheguei em casa eu tomei banho e fui dormir. Ai já tinha notícia. Aí que eu vi o tamanho da encrenca. Fiquei ainda uns três dias aqui e depois eu fui embora.
Por que você voltou?
Por causa do dinheiro. Eu vim cobrar. Se tivesse sido pago o dinheiro talvez nada disso tivesse acontecido.
E se ele não te pagasse?
Se ele não me pagasse em dinheiro, ele ia pagar com a vida. Essa vida é um compromisso, ele tinha que honrar o compromisso.
Você se arrependeu?
Eu me arrependi pelo preço que foi. Foi combinado um preço e pelos cem mil ele foi barato. Pelos cem mil ninguém matava ele e por não ter recebido. Se eles tivessem dito, realmente, quem ele era o preço seria outro e o dinheiro tinha que sair.
Você tem filhos?
Tenho um casal de filhos. Uma menina de dois anos e um menino mais novo. Eu não quero que o meu filho siga essa minha vida. Nenhum pai quer isso pra um filho. Eu quero que o meu filho estude.
Entenda o caso
Jhonatan Sousa Silva, de 24 anos, confessou ter assassinado o jornalista Décio Sá, com cinco tiros, em um bar da Avenida Litorânea, orla de São Luís, no dia 23 de abril. O pistoleiro confessou à polícia que matou o jornalista à mando de um consórcio de agiotagem, formado por seis pessoas, presas no dia 13 de junho.
Os empresários Gláucio Alencar Pontes Carvalho (34), seu pai, José de Alencar Miranda Carvalho (72), José Raimundo Sales Charles Jr. (38), Fábio Aurélio do Lago e Silva (32), Airton Martins Monroe (24) e o subcomandante da Polícia Militar do Maranhão, Fábio Aurélio Saraiva (conhecido como Fábio Capita), foram apontados por Jonathan, como envolvidos na morte do jornalista Décio Sá.
Jhonatan realtou, inclusive, que teriam encomendado o crime por R$ 100 mil, mas o valor não foi integralmente, o que motivou seu retorno para São Luís, no intuito de cobrar a dívida. Todos os suspeitos continuam presos e o homem, identificado como Diego, que pilotou a moto para Jhonatan no dia do crime, continua foragido.
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