quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Recordar é sofrer:Grandes Crimes que abalaram São Luís - CASO IVON: O ALGOZ VIRA VÍTIMA

http://www.jornalpequeno.com.br/2005/4/23/Pagina14209.htm

Ivon de Oliveira Sousa, um empresário piauiense que colecionava com a

mesma dedicação armas e amigos no alto escalão da polícia maranhense, mata um homem com um tiro no rosto, no hotel Central, em 1973, e é morto em 1984, quando estava acompanhado de um delegado

POR OSWALDO VIVIANI
ou de fora), artistas badalados e gente dasocietyludovicence.

Como todo hotel de categoria, o Central abrigava um bar,

localizado no piso térreo. O lugar era um ponto de encontro não só de

hóspedes, mas daquelas pessoas que costumamos chamar de "bem

relacionadas", que faziam do bar uma espécie de "escritório",

onde, geralmente nohappy our(lá pelas 18h), negócios eram realizados

ou desfeitos, tudo regado a muito uísque do bom, e outras bebidinhas fortes,

servidas por garçons das antigas, com gravatas-borboleta e tudo, uma espécie

hoje em franca extinção.

Foi nesse ambiente que no dia 7 de dezembro de 1973, uma

sexta-feira, às 19h30, o empresário e campeão de tiro ao alvo Ivon de

Oliveira Sousa, 36 anos, assassinou com um tiro no rosto o contador do Tribunal

de Contas do Estado José Ribamar Sacramento Pestana Costa, 34.


Disputa por mulher– Uma mulher, que depois se tornaria a

esposa de Ivon, foi o pivô do crime do hotel Central. Seu nome: Hilma Almeida

Viana. Ivon namorava com Hilma há alguns anos e marcara o casamento para o dia

30 de novembro de 1973.

Ao aproximar-se a data do matrimônio, o contador José

Sacramento – um antigo admirador de Hilma, mulher exuberante, que atraía

todas as atenções quando surgia em qualquer ambiente acompanhada de Ivon –,

intensificou suas tentativas de se aproximar da mulher.

Sacramento não se intimidava nem mesmo quando Hilma estava com

Ivon, como em 27 novembro de 1973. Nesse dia, Ivon saía do bar do hotel São

Luís, quando o contador começou a disparar alguns galanteios na direção de

Hilma. Ivon colocou rapidamente a noiva num táxi e, depois de um pequeno

bate-boca com Sacramento, retirou-se. Em 3 de dezembro, três dias depois do

casamento de Ivon e Hilma, Sacramento voltou a abordar Hilma, num momento em que

ela estava só. Já ligeiramente entregue aos efeitos do álcool, o contador

disse à mulher, entre outras coisas, que seu marido "não era de

nada".


De joelhos- Hilma, naturalmente, falou do assédio de

Sacramento ao marido. O clima de confronto iminente estava criado. Na

sexta-feira, 7 de dezembro, Ivon entrou no bar do hotel Central disposto a

acertar as contas com Sacramento. Disse isso, alto e bom som, a várias pessoas.

Era o dia do seu aniversário e Ivon começou a beber mais cedo do que

normalmente fazia.

De acordo com o depoimento de José Batista de Lima, vendedor de

cigarros que trabalhava na porta de entrada do hotel Central, Ivon chegou no bar

aproximadamente às 18h e foi sentar-se junto a alguns colegas. Às 19h15, mais

ou menos, Sacramento entrou no local e foi até o balcão onde trabalhava um

garçom seu amigo, Antonio Cardoso Diniz.

Tão logo viu o rival, segundo o vendedor de cigarros, Ivon

imediatamente levantou-se e foi em sua direção. Ao se encontrarem, Ivon

aplicou uma "gravata" em Sacramento e os dois caíram sobre umas

mesas. Os amigos do Ivon se levantaram e apartaram os dois.

Livre de Ivon, Sacramento correu para os fundos do bar, local

que servia de depósito para caixas de cerveja vazias. Ivon o seguiu, já com

seu revólver calibre 38 em punho. Sacramento ainda tentou se esconder em meio

às caixas de cerveja, mas foi localizado por Ivon. De acordo com testemunhas,

antes de atirar no rosto de Sacramento, Ivon o teria obrigado a se ajoelhar-se.

Sacramento agonizou nos fundos do bar do hotel até ser

transportado numa caminhonete para o Socorrão I, onde morreu. Ivon abandonou o

local num táxi azul, segurando o revólver numa das mãos e algumas balas na

outra.


Absolvido- O delegado

Pedro dos Santos, do 1o Distrito Policial, começou as investigações do caso.

Levantou a ficha de Ivon e descobriu que ele era reincidente em crimes com armas

de fogo: em 1970, respondera inquérito no 1o DP por ter atirado numa das mãos

de Bento Vieira, proprietário de um depósito de cebolas localizado na rua

Henriques Leal. Foi preso em flagrante, mas livrou-se, pagando fiança, por meio

do advogado Daniel Ribeiro da Silva.

Em 11 de dezembro de 1973, foi decretada a prisão preventiva de

Ivon de Oliveira Sousa, pelo juiz da 6a Vara Criminal, José Henrique Campos. Ao

mesmo tempo, familiares de Ivon constituíram como advogados de defesa os

doutores Daniel Ribeiro e José Lago, que conseguiram a revogação da prisão

preventiva, por meio de umhabeas-corpus. Só assim ele voltou do

interior do Estado, para onde havia fugido, e se apresentou à polícia de São

Luís.

Ivon respondeu ao inquérito em liberdade, até ser absolvido

num julgamento acontecido em 1979. Seus advogados alegaram que ele agira sob

violenta emoção, provocada pelo fato de a vítima – José Sacramento –

haver desrespeitado, por diversas vezes, sua mulher.


"Bronca" comprada- Sem mais nada dever à

Justiça, Ivon de Oliveira Sousa casou-se com Hilma e foi morar no Parque

Amazonas (rua Itaituba , quadra Q, casa 12). Seu apego às armas de fogo e um

certo dom natural que possuía de fazer amigos dentro da polícia o levou a

montar uma empresa de segurança – a Master – Maranhão, Segurança

Técnica, Turismo e Representações (rua Oswaldo Cruz, 1305, centro).

Na empresa trabalhavam vários policiais e ex-policiais civis e

militares. Dois dos seguranças da Master – Manoel Inácio Torres e Matias

Meireles Silva –, fiando-se na condição de funcionários de Ivon, um homem

então com muitos amigos no alto escalão da polícia, haviam invadido, em 1978,

um terreno pertencente a Sebastião Monteiro Mendes, um agente de polícia

aposentado.

O terreno ficava na Areinha (rua 48, casa 19, atrás da Comave).

Sebastião morava na parte da frente do terreno. Os dois seguranças de Ivon se

apossaram dos fundos, onde havia duas construções, levantadas por Sebastião,

e passaram a cortar árvores e fazer outras intervenções na área, tudo a

mando de Ivon.

Ivon desde o início assumiu a "bronca" dos

funcionários e passou a entrar em conflito direto com Sebastião Monteiro

Mendes.


Morte na escuridão-

Inúmeras queixas foram registradas, de lado a lado, no 1o DP e na Dops

(Delegacia de Ordem Política e Social), até que no dia 3 de abril de 1984 a

situação alcançou os índices máximos de tensão. Ivon e Sebastião

estiveram, nesse dia, à tarde, na Secretaria de Segurança, onde conversaram

com os delegados Pedro Gonçalves e Luís Moura (hoje preso por envolvimento no

crime organizado) . Cada um expôs sua versão, mas não chegaram a um acordo.

Logo após a conversa, Sebastião saiu do distrito num táxi, e

Ivon pediu para que o delegado Lenine Pontes o acompanhasse ao terreno da

discórdia, a fim de que o policial averiguasse a situaçãoin loco.

Rumaram para o local na caminhonete Ford F-1000 de Ivon, conduzida pelo

motorista da polícia João Batista Cardoso, mais conhecido como

"Macarrão".

Chegando ao terreno, na Areinha, Ivon começou a mostrar a área

ao delegado Lenine. Preocupado, já que o lugar estava em completa escuridão, o

delegado chamou a atenção de Ivon para o fato de estarem muito expostos ali e

que estava desarmado. "Eu pressenti a morte", diria, depois, o

policial.

Ivon brincou: "Que é isso compadre? Estás ficando

medroso? Estou lhe desconhecendo". Em seguida, prometeu que em alguns dias,

presentearia Lenine com uma arma.

Nem bem Ivon acabou de dizer isso, veio o disparo. Uma carga de

chumbo, que o atingiu em cheio no peito. "Ao ser alvejado, ele estava com a

mão em meu ombro, e pediu para que eu o ajudasse.

Apavorado, pois havia escapado por pouco, nada pude fazer, a

não ser colocá-lo no carro, com a ajuda de ‘Macarrão’, e levá-lo para o

Hospital Português, onde ele ainda chegou com vida, falecendo instantes

depois", contou Lenine Pontes.

Um vizinho– Antonio Carlos Diniz –, que se

encontrava nas imediações, informou à polícia que viu Sebastião e seu filho

José Ribamar Costa Mendes fugirem num táxi Fiat verde. José Ribamar carregava

uma espingarda do tipo cartucheira.

No dia 25 de abril, o ex-agente da polícia civil

Sebastião Monteiro Mendes, 53 anos, se apresentou no 1o DP, acompanhado de seu

advogado Carlos Alberto Figueiredo. Admitiu que matou Ivon porque estava sendo

ameaçado, e garantiu que seu filho José Ribamar (empacotador do Supermercado

Confiança, da rua Grande) não tinha nada a ver com o crime. "Matei para

não morrer. Fui ameaçado de morte pelo Ivon na frente do delegado Luís

Moura", declarou Sebastião.

A Justiça foi tão condescendente com Sebastião como fora com

Ivon no caso do crime do hotel Central. Ele foi absolvido cerca de quatro anos

depois de cometer o assassinato.

Ivon de Oliveira Sousa, morto aos 47 anos, foi enterrado no dia

4 de abril de 1984 em Teresina (PI), sua cidade natal. Deixou mulher, dois

filhos e uma vasto rol de amizades entre os policiais maranhenses.

Alguns desses antigos "colaboradores" entraram na casa

do empresário, no Parque Amazonas, dias depois de seu assassinato, e levaram

todas as armas de sua extensa coleção. Alegaram que as mesmas "não

estavam registradas".

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