segunda-feira, 18 de abril de 2011

O dia da morte de lampião

Virgulino foi o terceiro filho de José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália.

Lampião teve uma infância comum a todos os meninos de uma baixa classe média sertaneja: aprendeu a ler e a escrever, mas logo foi ajudar o pai, pastoreando seu gado. Trabalhou também com seu pai como almocreve - pessoa que transportava mercadorias a longa distância no lombo de burros. Quando adolescente, acompanhado por seus irmãos Levino e Antônio, envolveu-se em crimes por questões familiares. Na época de adolescentes, ele e seus dois irmãos, Levino e Antônio já tinham fama de valentões, andavam armados e gostavam de arrumar confusão nas feiras livres para impressionar as moças. Também tinham o costume de pedir dinheiro por onde passavam. No sertão de sua época, dizia-se, homem macho e de valor, tinha de ser brigão.

Seu pai era um homem tranqüilo e pacifico. Após várias tentativas que procuravam finalizar a rixa (por questões de disputa de terras e demarcação de divisas entre propriedades rurais) existente contra a família do seu vizinho José Saturnino, acabou sendo morto pelo delegado de polícia Amarílio Batista e pelo Tenente José Lucena, quando o destacamento procurava por Virgulino, Levino e Antônio, seus filhos.

No ano de 1920, com o objetivo de vingar a morte do pai, Lampião alistou-se na tropa do cangaceiro Sebastião Pereira, também conhecido como Sinhô Pereira.

Em 1922, Sinhô Pereira decidiu deixar o cangaço e passou o comando para Virgulino (Lampião).

Sede de vingança, cobiça e concentração do poder que por Sinhô Pereira lhe fora outorgado, levaram Lampião a se tornar um dos bandidos mais procurados e temidos de todos os tempos, no Brasil. Nesse mesmo ano realiza o primeiro assalto, à casa da baronesa de Água Branca (AL), na qual seus homens saquearam vultosa quantia em dinheiro e jóias[2].

Em 1926, refugiou-se no Ceará e no de 4 de Março recebeu uma intimação do Padre Cícero em Juazeiro do Norte (CE). Compareceu a sua presença, recebeu um sermão por seus crimes e ainda a proposta de combater a Coluna Prestes que, naquela época, se encontrava pelo Nordeste.

Em troca, Lampião receberia anistia e a patente de capitão dos Batalhões Patrióticos, como se chamavam as tropas recrutadas para combater os revolucionários. O capitão Virgulino e seu bando partiram à caça de Prestes, mas ao chegar a Pernambuco, foi perseguido pela polícia e descobriu que nem a anistia nem a patente tinham valor oficial. Voltou, então, ao banditismo.

Em 13 de junho de 1927, após sequestrar o Coronel Antônio Gurgel, promoveu uma tentativa de invasão à cidade de Mossoró (RN), onde perdeu dois de seus famosos auxiliares: "Colchete", fulminado por uma bala de fuzil logo no início dos combates com os defensores da cidade, e "Jararaca", ferido no tórax e na perna, capturado no dia seguinte, depois de passar a noite escondido fora da cidade, e depois executado e sepultado no cemitério da cidade pela polícia local. Depois desta derrota, Lampião passaria a ser perseguido pela polícia de três estados: Paraíba, Pernambuco e Ceará. Em fuga, atravessou o rio São Francisco com apenas 5 cabras e reestruturou seu bando no Estado da Bahia. A partir daí, passou a agir principalmente nos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.

Maria Bonita
Em fins de 1930, escondido na fazenda de um coiteiro - nome dado a quem acolhia os cangaceiros - conheceu Maria Déia , a mulher do sapateiro Zé de nenem, que se apaixonou por Lampião e com ele fugiu, ingressando no bando. A mulher de Lampião ficou conhecida como Maria Bonita e, a partir daí, várias outras mulheres se integraram ao bando.

Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro .

Como se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.

No ano de 1936, o comerciante Benjamin Abraão, com uma carta de recomendação do Padre Cícero, consegue chegar ao bando e documenta em filme Lampião e a vida no cangaço. Esta "aristocracia cangaceira", como define Lampião, tem suas regras, sua cultura e sua moda. As roupas, inspiradas em heróis e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, são desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião. Os chapéus, as botas, as cartucheiras, os ornamentos em ouro e prata, mostram sua habilidade como artesão.

Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto: "Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião".

No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o oficio e se prepararem para tomar café, foi quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.

Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.

O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro, e as jóias.

A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete (2) e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro.

Feito isso, salgaram as cabeças e as colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensangüentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocado creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor.

Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumadas cuidadosamente na escadaria da igreja, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas. Depois Maceió e depois, foram ao sul do Brasil.

No IML de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.

Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.

Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.

O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois. Assim, a era CANGAÇO se encerrou, com a Morte de Virgulino.

Fonte: www.tribunadosertao.com.br

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