sábado, 30 de abril de 2011

GRANDES CRIMES QUE ABALARAM SÃO LUÍS- KENNEDY É ASSASINADO EM SÃO LUIS

O Blog recupera uma série de reportagens do jornal pequeno
intitulada" assasinatos que abalaram S.Luís".
a primeira reportagem é sobre o assasintode Johnn kennedy, execitivo da Ulen , empresa Americana no Maranhão no setor de energia. O caso teve grande repercussão e intervenção dadiplomacia Americana no Brasil,

O Brasil dos anos 30 era um país conturbado.

Logo no início da década, a chamada Revolução de 1930, movimento empreendido

por políticos e militares, derrubara o então presidente Washington Luís,

estabelecendo o fim da República Velha e inaugurando a chamada Era de Vargas,

que instalaria o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas no poder por um período de

quinze anos.

A "revolução vitoriosa", no entanto, não teve

"cacife" para deter a ação predatória do capital estrangeiro no

Brasil, que já se transformara num dos países detentores dos números mais

expressivos da dívida externa.

Assim, mesmo sob a égide do getulismo, os dólares e as libras

esterlinas falaram mais alto, e empresas inglesas e norte-americanas,

continuaram a auferir lucros escorchantes e a prestar péssimos serviços à

população em setores importantes, como águas e esgotos, energia elétrica,

transportes e industria de confecção.

O Maranhão não escapou ao apetite leonino das corporações

internacionais. Desde 1923, os serviços de tração elétrica (bondes), luz,

águas e esgotos e prensa de algodão eram explorados pela norte-americana Ulen

Company.

Nos primeiros anos da década de 30, a indignação e a revolta

da população – sufocada por taxas e impostos extorsivos – contra a Ulen

já atingia índices altíssimos. O governo maranhense também não suportava

mais ter de cumprir rigorosamente as cláusulas do contrato, que faziam sangrar

dos cofres públicos mais de um terço da receita pública, com o pagamento

periódico de altos juros.

Num telegrama ao presidente Getúlio Vargas, em 1933, o

governador do Maranhão, Antônio Martins de Almeida, escreveu: "O contrato

com a Ulen é um atentado à dignidade e à soberania de um povo".

Para muitos estudiosos da história maranhense, é impossível

que esse clima de revolta contra os desmandos da Ulen Company não tenha

envenenado a mente do bilheteiro de bonde José de Ribamar Mendonça, quando

ele, inconformado com sua demissão, depois de quase dez anos de trabalho,

decidiu, no dia 30 de setembro de 1933, assassinar o contador da Ulen, John

Harold Kennedy.



"Parecia um macaco!"

- A sede da Ulen ficava na

esquina da rua da Estrela com a rua Direita (Henrique Leal), onde hoje está

localizada a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado.

O escritório era chefiado por Harry Isler, e tinha como segundo

homem na hierarquia John Harold Kennedy, responsável por toda a parte contábil

da empresa. John Harold era tio de John Fitzgerald Kennedy, que se tornaria

presidente dos Estados Unidos em 1961 e morreria assassinado em novembro de

1963.

Desde a instalação da Ulen em São Luís, em 1923,

multiplicaram-se na cidade episódios que revelavam a arrogância, o preconceito

e o desprezo de seus funcionários em relação à população ludovicence.

Os trabalhadores brasileiros da companhia eram as principais

vítimas do tratamento humilhante dos ianques. Mas os maus-tratos e as atitudes

prepotentes não se limitavam às dependências do escritório da Ulen. Quando

saíam às ruas para "se divertir", os "gringos" promoviam

quebra-quebras homéricos nos bares e arruaças diversas.

O mau exemplo vinha de cima. Era mais que conhecido do povo de

São Luís o comportamento de Anne Isler, mulher do chefão da Ulen, que

aterrorizava os populares quando resolvia ziguezaguear pelas ruas da cidade com

seu carrão, à velocidade máxima – na época, uns 100 quilômetros por hora.

Além dos carros velozes, Anne nutria outra paixão: a caça. E

não só de animais. Certa feita, caçando nas matas do Sacavém – onde,

aliás, a prática desse esporte era proibida –, desfechou, com sua Winchester

de dois canos, vários tiros num vulto que apareceu, de repente, por detrás de

uma árvore. A "presa" era um guarda florestal, que teve morte

instantânea.

Na delegacia, questionada por um policial, Anne Isler declarou,

displicentemente: "Really, he was looking like a monkey!"

("Realmente, ele parecia com um macaco!").

O contador John Harold Kennedy não era menos petulante e

grosseiro. Era ele quem cuidava da contratação e demissão dos funcionários

brasileiros da Ulen, a quem tratava com modos rudes – tratamento do qual não

escapavam nem mesmo aqueles que estavam na empresa desde o início, como era o

caso do bilheteiro de bonde José de Ribamar Mendonça.

Nas suas horas ociosas, Kennedy cultivara o hábito de

freqüentar o bordel de Laulita, na rua da Palma, onde gastava uma boa

quantidade de dólares bebendo uísque House, fumando cigarros Look-Strike e,

naturalmente, comprando sexo.

Entre as moças de Laulita, sua predileta era Lurdinha, de quem

provavelmente contraiu a blenorragia (doença venérea popularmente conhecida

como gonorréia) diagnosticada pelo doutor José Murta, que tinha consultório

à praça João Lisboa, 190.



Umas doses de tiquira

- José de Ribamar Mendonça, ao

contrário dos endinheirados americanos da Ulen, era um jovem humilde e de

hábitos simples. Nascido em Cajapió (Baixada Maranhense) em 1908, criou-se no

campo, onde desde cedo aprendeu a cumprir suas tarefas com responsabilidade,

ordenhando vacas e levando os animais para o pasto. Em 1924, aos 16 anos, veio a

São Luís e, disposto a ajudar a família, empregou-se na Ulen.

Depois do expediente, Ribamar gostava de bebericar umas doses de

tiquira no botequim do Zé Sampaio, que ficava ali bem perto do escritório da

Ulen. Depois, antes de ir para casa, no Beco do Couto, costumava dar um passeio

pela praça Benedito Leite, fumando cigarros da marca Fidalgo, a mais popular da

época.

Foi numa dessas caminhadas notívagas na praça que Ribamar

encontrou sua amada, Ita, uma graciosa adolescente de 16 anos que morava onde

hoje é o Canto da Fabril.

Quando já estava perto de completar 10 anos de empresa – o

que lhe garantiria, por lei, a estabilidade no emprego – Ribamar, então com

25 anos, pensou seriamente em constituir uma família com Ita. Os dois não

tiveram nem tempo de sonhar. A demissão de Ribamar – sem qualquer motivo que

a justificasse, já que era um funcionário aplicado –, na manhã do dia 30 de

setembro de 1933, fez cair por terra todos os planos do casal de concretizar uma

vida em comum de felicidade.



Sem arrependimento

- Depois da demissão, Ribamar ainda

tentou procurar alguns políticos influentes para tentar reverter a decisão.

Uma das pessoas que contatou foi o ex-governador Astolfo Serra. De nada

adiantou. Os diretores da Ulen se mantiveram irredutíveis.

No dia 30 de setembro de 1933, o homem que se apresentou, às

17h30, no escritório da Ulen, pedindo para falar com o contador John Harold

Kennedy era uma pessoa em desespero.

Um jovem maranhense de 16 anos, Alberto Champadry, atendeu

Ribamar, indo chamar John Harold, que estava reunido com o chefe da seção de

águas, Ghete Jansen.

Ribamar esperou impassível, de pé, junto à grade que separava

a sala de espera do escritório propriamente dito. Depois de alguns minutos,

John Harold veio até Ribamar.

Os dois trocaram umas poucas palavras e o norte-americano

virou-se para voltar à reunião com Ghete Jansen. Nesse momento, o bilheteiro

demissionário sacou um revólver marca OV, niquelado, cano longo, calibre 32, e

desferiu quatro tiros na direção de John Harold. Só dois acertaram o

norte-americano, mas foram fatais.

Perpetrado o crime, Ribamar, ainda com o revólver na mão,

correu em direção à rua Afonso Pena, perseguido por uma pequena multidão.

Chegando ao Departamento de Saúde e Assistência, entrou no prédio, sendo

perseguido pelo cabo da Força Pública, José Caetano da Silva.

Quando o cabo o alcançou, Ribamar conversava com o médico

Ático Seabra. Ao ver o policial, Ribamar, calmamente, entregou-lhe a arma e

disse: "Matei agora mesmo o bandido que mais me perseguia, mas não estou

arrependido".



Pressão ianque

- O assassinato de um dos principais

executivos da Ulen teve grande repercussão. Jornais do Maranhão (A Pacotilha),

do sul do país (Jornal do Comércio, O Globo, ambos do Rio de Janeiro) e até

dos Estados Unidos (The New York Times) deram grande destaque ao assunto.

Preso, José de Ribamar Mendonça foi julgado quase

sumariamente, no mesmo ano de 1933. O julgamento, como não poderia deixar de

ser, teve como pano de fundo a exploração do país pelas grandes empresas

internacionais.

O governo norte-americano pressionou de todas as formas

possíveis a Justiça brasileira para obter a condenação de Ribamar.

Subserviente, o próprio Itamaraty, para não desagradar os "irmãos do

norte" e manter abertas as torneiras que periodicamente desaguavam milhares

de dólares no país, também se empenhou pela condenação do réu.

Apesar de todas as pressões, José de Ribamar Mendonça foi

absolvido em dois julgamentos (o primeiro, por 5 a 2; o segundo, por

unanimidade), graças principalmente à atuação do advogado Waldemar de Brito,

um dos maiores criminalistas de sua época.

Sem emprego e sem amor – a bela Ita se afastou, em meio ao

turbilhão desencadeado pelo crime –, Ribamar partiu para o Rio de Janeiro,

onde conseguiu um emprego como cobrador, na empresa Atlantic.

Estava claro que José de Ribamar queria se livrar do pesadelo

chamado Ulen, começar vida nova, esquecer de tudo. Mas o implacável

"polvo" norte-americano não o esqueceu. Em 19 de janeiro de 1944,

mais de dez anos depois do crime, ele foi novamente preso, dentro da própria

Atlantic, como resultado de um conluio entre o Itamaraty e a Embaixada

Americana.

Transferido do Rio para São Luís, Ribamar sequer chegou a ser

julgado: Waldemar de Brito o livrou definitivamente com um habeas-corpus, em 29

de maio de 1944.

Dez dias depois, Ribamar embarcava de volta ao Rio e ao seu

emprego na Atlantic. Lá, o assassino de John Kennedy ficou até morrer,

fulminado por um ataque cardíaco, em 22 de março de 1952, aos 44 anos
Fonte: Jornal pequeno

Nenhum comentário:

Postar um comentário