Fora do Brasil as coisas são diferentes. A World Intellectual Property Organization (Wipo) o condecorou com medalha e certificado. Mas quem disse que a vida dele foi fácil? Filho de uma dona de casa e de um dono de bar, o inventor é o caçula de nove filhos - sete mulheres e dois homens. Quando criança, sonhava ser jogador de futebol. Na adolescência, foi quarto-zagueiro e lateral esquerdo na equipe juvenil do Cruzeiro, time fundado pela colônia italiana, da qual pertencia avô de Nélio. Apesar da dedicação, ele não teve muitas oportunidades e se transferiu para o Pedro Leopoldo, na cidade homônima da Grande Belo Horizonte. "Disputei o Campeonato Mineiro de 1965".
Idealismo
O novo emprego lhe exigiu muitas viagens. Numa delas, desembarcou em Brasília, onde foi convidado a trabalhar na telefônica local. Foi lá que ele teve a ideia de criar o bina. "Como não havia laboratório na Telebrasília, montei o bina numa máquina de calcular. A operadora não botava fé na minha criação, dizia que era quebra de sigilo (telefônico) e que países como os Estados Unidos jamais iriam usá-lo. O que seria uma honra em qualquer país se transformou numa guerra para mim, pois comecei a ser isolado dentro da empresa. Chefe de departamentos e diretores começaram a me ignorar e me deixavam sentado em uma mesa sem fazer nada. Comecei a adoecer".
O martírio maior veio em 1984, quando foi despedido. O motivo é curioso: "Havia sido eleito o funcionário padrão em 1982 e em 1983, mas, no ano seguinte, em razão de muitos clientes quererem comprar o bina, a firma me despediu com a justificativa de que eu estava atrapalhando a empresa. Um absurdo. Tanto que outros países, sabendo da minha demissão, me convidaram para trabalhar lá fora. Recusei, porque meu lugar é aqui. Sempre fui idealista. Sou brasileiro", desabafou o inventor, criador de outros serviços, como o salto - serviço sonoro que indica, durante um telefonema, que há outra chamada na linha. Também é dele o Bina-lo, que registra as chamadas perdidas.
Aposta de loteria no Afeganistão
O inventor Nélio José Nicolai não para. Agora quer convencer a Caixa Econômica Federal (CEF) de que apostas nas loterias podem ser feitas nos caixas eletrônicos. "Se a pessoa estiver no Afeganistão e lá tiver um caixa da CEF, poderá fazer a aposta". Além das invenções, o mineiro ganha a vida prestando consultorias pela Lune, empresa que montou, em 1993, e cujo nome é a junção das iniciais do nome da esposa, Luzia, com o dele.
"Gosto tanto de conversar que, quando alguém me procura para uma consultoria, percebo que conto tudo antes de assinarmos o contrato para o serviço", disse Nélio, acrescentando que o dinheiro que recebeu da Claro foi investido na Lune. Mas o que ele mais deseja é o fim da batalha judicial contra as operadoras.
"A lei que trata das patentes tem um artigo que diz que o titular pode impedir todos de usarem o invento ou licenciá-lo. Na época, o juiz concedeu uma liminar para as multinacionais usarem a vontade. É um crime de 'lesa-pátria', pois a patente do bina para o Brasil é um patrimônio importante. As multinacionais faturam US$ 39,6 bilhões por mês. Eu e o Brasil não recebemos nenhum centavo. Só em nosso país há 256 milhões de celulares", lamentou Nélio, pai de quatro filhos.
O mais velho lhe deu dois netos. A eles, quando crescerem um pouco mais, Nélio ensinará à dupla uma frase que lamenta dizer: "Para que tenhamos uma democracia boa, o Judiciário precisa ser mais ágil". (PHL)
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