quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O preço da ousadia

04/10/12
Por José Luiz Oliveira de Almeida
A vida ensina que numa corporação, para ascender, vale tudo – ou quase tudo. O que menos vale, algumas vezes, é ser um profissional qualificado. Isso tem um peso, mas é quase irrelevante, digo melhor, é relativo. Infelizmente, ainda não alcançamos maturidade suficiente para promover, por merecimento, somente os melhores. O que testemunho é que ainda prepondera uma dose de subjetivismo muito grande nas promoções – aqui e algures. Tem sido assim desde sempre. É preciso, pois, além de trabalhar, ter habilidade para conquistar as pessoas. Não vale, pois, apenas trabalhar, se dedicar, fazer acontecer. Muito ao contrário. Numa corporação, qualquer que seja, ser criativo, trabalhador, destemido, dedicado, respeitado é quase um pecado.E o mais grave é que, nessas mesmas corporações, os profissionais de reputação duvidosa têm sempre alguém para agir em sua defesa, diferente dos bons profissionais que são, quase sempre, pagãos. Quase ninguém empunha a bandeira do profissional probo, competente e dedicado. É como se ele, por ser probo, competente e dedicado, merecesse ser desprezado. É o preço que muitos pagam pela ousadia.
A constatação supra decorre, claro, daquilo que observo – e que senti quando me atrevi a ser promovido por merecimento -, estando numa corporação há mais de duas décadas.Isso é fato! Atrevo-me a dizer, por isso, que há profissionais valorosos que, até onde alcança a minha percepção, jamais serão promovidos por merecimento, extamente em face de terem se destacado pelos predicados que antes relacionei. Esses podem dizem aos filhos, quando questionados: “papai (ou mamãe) jamais será promovido por ter ousado ser diferente, por ter brilho próprio, por ser independente, por ser capaz de dizer não”. Seu filho, certamente, levará um susto. Mas não esqueça de dizer, ademais, que essa regra comporta algumas, poucas exceções. Não esqueça de dizer, finalmente, que ainda há (para alguns) o consolo da promoção por antiguidade.
Desse quadro- lamentável, sob todos os aspectos – resulta a constatação de que os bons, os melhores profissionais de uma determinada corporação podem não ser promovidos, não pelo que fizeram de mal, mas pelo que fizeram de bem.
A verdade é que, numa corporação, é pecado ser diferente. O que parece imperar mesmo é a mesmice, a mediocridade.O medíocre compensa a sua desqualificação com afagos e elogios aos que detém o poder de decisão. É por isso que muitos que estão do outro lado ficam se questionando como é que fulano foi promovido ou como se justifica a não promoção de sicrano.
O certo é que, nesse conflito de valores, os simpáticos vão ascendendo , em detrimento dos mais competentes, daqueles que preferiram o tabalho ao invés da bajulação.
O que estou a constatar ocorre em todas as corporações, sem exceção. O que falta mesmo é quem tenha a coragem de dizer, quem tenha coragem de propor um basta, como proponho, aqui e agora.
É claro que essas reflexões partem do que entendo ser uma regra geral nas corporações. Mas há, sim, exceções. Claro que há exceções! Aqui e acolá há bons profissionais que conseguem conquistar os que detém o poder de decisão, e, assim, malgrado bons profissionais, consequem o que poucos consequem, que é ser promovido sem ser medíocre.
Atenção: eu não estou afirmando que todos os que são promovidos por merecimento são medíocres. Fazer essa afirmação seria uma sandice. O que estou querendo colocar à reflexão é que há profissionais que são alijados de promoções pelo que fizeram de bem, pelo o que construirem em benefício da instituição, sobretudo se são do tipo exibidos, como eu.
Reafirmo, para não ser mal interpretado: há, sim, bons profissinais promovidos por merecimento nas corporações. Todavia, infelizmente, ainda não é a regra geral. Há muitos vícios do passado que precisam ser extirpados. Ainda se promove, sim, pelo simpatia do candidato, pelo bom trânsito do canditado, pela sua capacidade de se relacionar com o poder. Esse quadro ainda perdurará por longos anos, infelizmente. O caminho para o ideal que almejo é íngreme. Quiçá os obstáculos sejam afastados e nas promoções das próximas gerações serão considerados, rigorosamente, os bons predicados dos concorrentes à promoção, afastadas as impressões pessoais.
É claro que posso estar sonhando; sonhar, no entanto, não custa nada





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