Polícia investiga envolvimento de deputado com grilagem em Paço do Lumiar.
Raimundo Cutrim prestou depoimento nesta quarta-feira (16), em São Luís.
O deputado estadual Raimundo Cutrim prestou depoimento nesta quarta-feira (16) aos delegados que investigam a grilagem de terras na região metropolitana de São Luís. O deputado foi denunciado por uma família proprietária de terrenos na comunidade da Pindoba, em Paço do Lumiar . Segundo a família, o deputado teria se apropriado de um terreno usando uma documentação falsificada no cartório de São José de Ribamar. Durante o depoimento, o deputado alegou ter sido enganado na compra das terras.As investigações sobre a grilagem de terras em São Luís tiveram início após a morte do empresário Margion Andrade, ocorrido em outubro do ano passado, vítima de um crime de encomenda no bairro do Araçagi, município de São José de Ribamar. Os executores do crime foram presos e os mandantes continuam foragidos. O corretor de imóveis Elias Nunes Filho chegou a ser preso e depois de 24 horas, colocado em liberdade por decisão da Justiça. O ex-vereador de Paço do Lumiar, Edson Arouche Júnior, o Júnior do Mojó, que também tem prisão preventiva decretada, continua foragido. De acordo com o delegado Carlos Alberto Damasceno, que comanda as investigações sobre os casos de grilagens, com o advento do assassinato do empresário, que teve uma de suas propriedades griladas, vieram à tona vários outros casos relacionados à fraude de documentos na compra terras.
Em menos de um ano, os investigadores da Polícia Civil descobriram fraudadores de documentos e quadrilhas de grileiros que atuam nos quatro municípios da ilha. “Temos inúmeras quadrilhas que atuam nessa questão da grilagem. Algumas no município da Raposa, outras muitas no município de São José e Ribamar e espalhados por toda a ilha, inclusive na região do Bacanga. Outras quadrilhas se apoderam de propriedades e fabricam, mediante escritura pública, títulos de propriedade afim de transformarem em registro de imóveis. Essas quadrilhas atuaram durante muito tempo e continuam utilizando esse tipo de fraude para se apoderar de propriedades”, conta o delegado Damasceno.
Envolvidos
O deputado estadual Raimundo Cutrim, citado no inquérito da grilagem, foi denunciado pelo corretor de imóveis, Sebastião Cardoso Filho e pela aposentada de 70 anos, Sinésia Isidora de Melo, herdeira da família Melo e moradora da comunidade da Pindoba, em Paço do Lumiar. Segundo a aposentada, parte da terra de sua família foi grilada pelo deputado Raimundo Cutrim. O delegado Damasceno afirma que a polícia pretende investigar o envolvimento de Raimundo Cutrim e outros beneficiários na produção destas fraudes e até que ponto a documentação em poder do deputado é válida.
Por ser deputado estadual, Raimundo Cutrim esolheu o local, a hora e a data para ser ouvido. O depoimento foi realizado em seu gabinete na Assembleia Legislativa. Cutrim negou as acusações e disse que está juntando documentos para confirmar sua inocência. “Comprei as terras de boa fé e tem documentos em toda a área. Minha área está registrada no INCRA, pago os impostos. Então se a escritura é falsa, a pessoa que a tirou, a mesma que me vendeu, é que deve responder. Nós estamos juntando as documentações para que no momento oportuno possamos tomar as devidas providências”, afirmou o deputado.
O secretário extraordinário de Assuntos Estratégicos do Governo do Estado, Alberto Franco, também citado nas investigações, foi ouvido nesta quarta-feira (15) e nega a participação na fraude. Sobre sua suposta participação no caso, o delegado Damasceno afirma que o cartório de São José de Ribamar, na época comandado pelo secretário, tinha conhecimento fraude. “A fraude não poderia ser consumada sem a participação de pessoas membros do Cartório de 1º Ofício de São José de Ribamar. Ela (a fraude) efetivamente aconteceu e já verificamos que três pessoas do cartório, entre elas o próprio Secretário Alberto Franco, assinam sabidamente documentos com certos vícios”, diz o delegado.
Para a polícia, a fraude está confirmada e, neste caso, a principal vítima é a aposentada Sinésia Isidora de Melo, que, segundo a polícia, foi lesada inclusive pelo corretor de imóveis, Sebastião Cardoso Filho. “Ele foi conivente com essa fraude, inclusive confessando, quando foi ouvido em interrogatório, Ele será, com certeza, um dos indiciados a termo deste inquérito”, revela o delegado. O corretor teria confessado ainda ter tido uma relação de grande proximidade com o deputado Cutrim, porém o não pagamento de um acordo entre os dois os teria afastado.
Recurso
Quanto aos direitos da aposentada e sua família, denunciantes da fraude, a advogada que defende as famílias de herdeiros na comunidade da Pindoba deve encaminhar nos próximos dez dias um agravo de instrumento ao Tribunal de Justiça do Maranhão. Ela pede a anulação e todos os documentos que, no passado, garantiram a venda da terra. Segundo a advogada, com a investigação da Polícia Civil que confirma a fraude, a Justiça maranhense deve fazer a reintegração de posses em favor da aposentada
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