quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Caso Décio Sá - Ditos e Contraditos III

O assassinato de Décio Sá terá desdobramentos. Disso ninguém mais tem dúvida. O anúncio das prisões dos mandantes e executores e a posterior divulgação dos depoimentos do executor do crime não são os únicos motivos para tanto, embora tenham trazido luzes sobre a atuação de uma rede criminosa.
Contudo, muita gente bem informada já sabia de antemão que Décio não teria sido morto por criminosos insignificantes, pelo menos na perspectiva dos mandantes. O crime foi a ponta de um imenso iceberg, que sobre o qual se assenta interesses poderosos.
Novamente antecipo minhas escusas se alimento a fogueira das vaidades de um ilegítimo analista. Sem nenhuma pretensão de fazer sensacionalismo, sempre tive cá minhas conclusões sobre esse crime, a começar denunciando um modelo de jornalismo que colhe dividendos de estratagemas criminosos. Esse tipo de jornalismo (que, em essência, não é jornalismo) ao mesmo tempo, funciona à socapa, subordinado a determinados interesses de políticos, via de regra, alimentados por um modelo de financiamento de campanha ilícito. A presença desse perfil de jornalismo no anfiteatro do crime revela que Décio foi morto por interesses que estão além da restrita agiotagem. Por intermédio da movimentação dos políticos é que esses jornalistas tiveram conhecimento do esquema de agiotagem. Como o costume do cachimbo deixa a boca torta...
Fábio Brasil foi eliminado por que repassava informações da rede criminosa para alimentar o achaque de políticos e empresários. Certamente não fazia isso em vão, uma vez que era de seu natural correr risco por quantias pequenas em dinheiro. Os achaques passaram a perturbar, creio eu, não apenas a agiotagem, mas uma outra rede, não menos perigosa e criminosa: a do financiamento de campanhas políticas. As boas relações dos agiotas com determinadas autoridades, especialmente do sistema de segurança e da classe política, fornecem um bom indício de que o esquema  funcionava como lavanderia, não só para eleger prefeitinhos do interior do Estado.
A presença do Deputado Estadual, Raimundo Cutrim, agora exige um aprofundamento maior das investigações. Acusá-lo de mandar matar pelas críticas que recebia de Décio não me parece convincente. Cutrim sempre alimentou boas relações com jornalistas que o criticavam até mais acidamente, como foi o caso de Walter Rodrigues. Para incriminá-lo falta ainda um motivo convincente. Algo que pode apontar para o coração do esquema.
Depois, é preciso considerar que uma organização criminosa funciona dividindo papéis e responsabilidades. Quem teve função importante em um crime, pode não ter em outro. Para acusar alguém de integrar uma rede criminosa, antes de tudo, é preciso sabem como funciona a rede, na sua totalidade. Sem a visão geral do esquema, a investigação perde a força lógica dos indícios e das provas. Por isso, fui contra antecipar os resultados de parte da investigação.
Agora, Jhonatan de Sousa Silva é um morto-vivo. Onde quer que esteja, correrá riscos, mesmo em presídios federais de segurança máxima. Isto porque as organizações criminosas se interligam nos presídios e mantêm relações de troca de favores. Mandar matar alguém preso é muito mais fácil, se não tomados os devidos cuidados. Espero que a situação dele esteja sendo encaminhada como réu-colaborador, para a qual a Polícia Federal dispõe de um programa específico - o programa de Proteção ao Depoente Especial
O fio da meada parece não ter fim, se considerarmos todos os assassinatos de prefeitos no Maranhão. Não só o caso Bertim (prefeito de Presidente Vargas, Raimundo Bartolomeu Aguiar) mereceria agora uma reavaliação dos inquéritos confusos. Até para se saber qual a origem da confusão investigativa, que tanto beneficiou os advogados de defesa como também o esquema de financiamento de campanha a que me refiro.
 
 

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