O homem mais rico do mundo ousa ao propor uma semana de trabalho de três dias, deixando os quatro dias restantes para o convívio com a família e aproveitar o que a sociedade do conhecimento tem a oferecer.
Por Carla JIMENEZ
O bilionário mexicano Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, está preocupado com o ritmo frenético do desenvolvimento econômico no mundo. O dono do grupo Telmex, que detém o controle da Claro, Net e Embratel no Brasil, tem reforçado em seus discursos públicos que o mundo vive uma nova civilização, na qual impera a sociedade do conhecimento. Mas, para usufruir desse privilégio, não se pode mais viver nos padrões da velha civilização. “Sou favorável a uma jornada de trabalho de três dias”, disse Slim, na sede da ONU, em Genebra, na terça-feira 12. Para ele, os outros quatro dias da semana deveriam ser ocupados com atividades mais prazerosas e criativas, como aproveitar a família e buscar leituras que ajudem as pessoas a inovar.
Na década de 1990, o italiano Domenico de Masi chamou a atenção para a necessidade do homem
de investir no ócio criativo. Agora, a causa ganha um militante de peso
com o bilionário mexicano (ao centro).
“Vivemos numa sociedade em que a experiência e o conhecimento devem ser valorizados”, disse Slim, de 72 anos. “Assim você pode estender o tempo de vida útil.” A ideia de valorizar o chamado ócio criativo ganhou força, nos anos 1990, com o sociólogo italiano Domenico de Masi, que escreveu diversos livros sobre o assunto, chamando a atenção para as mudanças que a tecnologia traria na vida da humanidade, liberando mais tempo para o lazer e para os assuntos pessoais. Vinte anos depois, com a expansão digital, Slim passa a militar pela mesma causa.
“É importante que as pessoas tenham tempo, recursos, emprego, conhecimento e capacidade de se incorporar à modernidade”, disse Slim em discurso durante o Fórum de Competitividade Econômica de Fronteira, realizado em abril, no México. Trabalhar menos, no entanto, fica mais fácil quando se tem recursos, como Slim, que construiu uma fortuna estimada em US$ 73 bilhões e há 12 anos passou o controle de suas empresas para os filhos. Amante das artes e do beisebol, o bilionário é cioso, por exemplo, do convívio com os 19 netos. Mas a realidade para a maioria dos mortais é bem diferente.
“Muitos brasileiros precisam trabalhar até seis dias para pagar suas contas no fim do mês”, diz Caio Megale, economista do Itaú-Unibanco, que participou da criação do Índice Itaú de Bem-estar Social, lançado na semana passada pelo banco das famílias Setubal, Villela e Moreira Salles. Megale observa que a idéia de trabalhar menos foi bem implementada pelos europeus, por exemplo, com conquistas sociais importantes no século 20. “Mas exageraram um pouco na dose e agora não sabem como gerar mais riqueza”, afirma o economista. Para os americanos, por outro lado, a dedicação ao trabalho é um valor intrínseco, dentro da ética protestante que prevalece em países como os Estados Unidos e a Suíça. “O mundo ideal seria encontrar um ponto de equilíbrio entre os europeus e americanos”, diz Megale.
Seja qual for a fórmula ideal, é fato que a revolução digital gera mudanças de mentalidade, já vistas em outros momentos da história, como na Antiguidade, com a invenção da escrita, ou com a criação da bússola no século 12, ou da máquina a vapor no século 18. “Em todos esses ciclos, a noção de que tudo que precisava ser inventado já existia se espalhava coletivamente”, diz De Masi. Era essa a percepção na Grécia Antiga, cerca de 350 anos antes de Cristo, quando o filósofo Aristóteles escreveu “Metafísica”. “Dediquemo-nos, então, ao progresso do espírito”, aconselhava Aristóteles. Foi nesse momento que a Grécia viveu seu maior desenvolvimento intelectual, com a filosofia, a arquitetura e a dramaturgia, por exemplo, que influenciaram a humanidade até os dias atuais.
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