Algumas histórias são assombrosas, como a que Brito obteve de Figueiredo sobre a escolha do político que seria seu vice, Aureliano Chaves. Conforme o general contou no depoimento ao jornalista, Aureliano virou o segundo homem do governo por acidente. Depois de convidar Figueiredo para suceder a ele, o general Ernesto Geisel quis saber a opinião do futuro presidente sobre a escolha de um vice. (Leia a reprodução dos principais trechos). Quando Geisel perguntou quem seria seu companheiro de chapa, Figueiredo ia começar a enumerar os que não escolheria: – Esse governador mineiro, seu amigo, Aureliano Ch... – e foi interrompido. – Ótimo, então não é bom comunicar logo a ele? – emendou Geisel.Segundo Figueiredo, Geisel não esperou que ele terminasse o que ia dizer-lhe. E ele estava pronto para dizer o seguinte: "Esse governador mineiro, seu amigo, Aureliano Chaves, nããão!", narrou Figueiredo. Calou-se quando viu estampado no rosto de Geisel o entusiasmo diante da citação do nome de Aureliano Chaves. Assim, pode-se dizer que a ascensão de Aureliano resultou apenas de um instante de esperteza de Geisel e de constrangimento de Figueiredo, se a história não foi um pouco melhorada pelo general com o intuito de desmerecer um homem que odiava, Aureliano.
Na fita gravada no churrasco de Paraíba do Sul, flagra-se uma provável distorção da verdade na versão que Figueiredo dá aos ouvintes quando se refere à demissão do general Ednardo D'Ávila Mello, comandante do II Exército no governo Geisel. Ele classifica como injusta a exoneração de Ednardo, cujos motivos foram a morte do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho nas dependências do Exército. Instado por Geisel a apurar com rigor o caso Riocentro, no qual militares contrários à abertura planejaram jogar bombas num pavilhão onde acontecia um show de música, Figueiredo teria respondido: "Não vou inventar um responsável, como o senhor fez com o general D'Ávila Mello. Essa injustiça eu não vou fazer" (veja quadro).
O diálogo provavelmente está correto na essência e incorreto nos detalhes e no tom. É improvável que Figueiredo tivesse afrontado o seco e altivo general Ernesto Geisel, seu superior, acusando-o tão diretamente de ter cometido uma injustiça. "Ele nunca ousaria dizer isso a Geisel", afirma o senador Antonio Carlos Magalhães. Mesmo que o diálogo tenha ocorrido exatamente conforme a versão de Figueiredo, fica patente que ele não tinha disposição, como Geisel teve, para enfrentar as vísceras podres da linha-dura militar que estava metida com a tortura e o terrorismo. Essa fita mostrada pela Globo em primeira mão foi feita durante uma festa na casa do empresário e atual prefeito de Paraíba do Sul, Rogério Onofre de Oliveira, responsável pela gravação e por sua divulgação. Na fita, Figueiredo assume pela primeira vez que foi informado sobre o envolvimento de militares na explosão do Riocentro logo depois da detonação da bomba.

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