terça-feira, 6 de setembro de 2011

VENDA DE SENTENÇAS » Relatório aponta rede de fraudes em Minas

O esquema de venda de sentenças investigado pela Polícia Federal (PF) e que tem entre os principais suspeitos o desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Hélcio Valentim pode ser bem mais amplo. É o que aponta o relatório sigiloso de análise e inteligência da PF que deu origem à Operação Jus Postulandi, deflagrada no fim de junho, depois da prisão do magistrado, do empresário Tancredo Tolentino, acusado de intermediar as negociações, e do advogado e vereador em Oliveira (MG) Walquir Avelar (PTB), acusado de negociar sentenças para traficantes.

De acordo com o relatório, o advogado e vereador tinha também contatos na Polícia Militar, que repassavam a ele informações sobre traficantes presos na região, e contratava os serviços de outros colegas para apresentar na Justiça os pedidos de habeas corpus. Além das negociações comandadas por Avelar, que levaram à soltura de pelo menos quatro traficantes — um deles detido com cerca de meia tonelada de drogas —, a PF levanta suspeita sobre outros habeas corpus concedidos pelo desembargador durante seus plantões criminais no TJMG para advogados de outras bancas.

No mesmo domingo de maio em que determinou a soltura do traficante Leandro Zarur de Maia, o desembargador afastado libertou Delaine Cristina, condenada a 14 anos por tráfico e que estava presa em Belo Horizonte desde agosto de 2010. A soltura de Leandro foi negociada por Avelar por R$ 96 mil, conforme revelam as escutas telefônicas e as interceptações de e-mails trocados entre ele e uma mulher identificada como Jaqueline Jerônimo. De acordo com a PF, ela era a responsável por discutir os detalhes da soltura não só de Leandro, mas de outros dois presos que também teriam sido soltos por intermediação de Walquir.

A soltura de Delaine foi feita pelo advogado de Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte) Jayme Guimarães Filho. Cinco dias depois de soltar Leandro e Delaine, durante um plantão noturno de sexta-feira, o desembargador libertou também João Carlos Gonçalves, que responde a processo por tráfico de drogas na capital mineira. O pedido de libertação partiu mais uma vez de Jayme Guimarães Filho. A soltura de João Carlos foi tão duvidosa, afirma a PF, que o próprio TJMG cassou a liminar concedida por Valentim logo no dia seguinte, antes mesmo da expedição do alvará de soltura. No caso de Delaine, o habeas corpus também foi cassado, mas ela já tinha sido solta e continua foragida até hoje.

Tempo recorde
Outro caso suspeito envolvendo o desembargador diz respeito à soltura, também em maio, no plantão de sexta-feira, da advogada Eliane dos Santos Souza, de 47 anos, mais conhecida como “Rainha do Pó”, chefe de um quadrilha de traficantes. Condenada a 16 anos em Manhuaçu, Zona da Mata, ela foi presa mais de uma vez por tráfico e por manter um laboratório de refino e preparo da droga em seu escritório.

A concessão do alvará de Leandro, impetrada pelo advogado Endrigo Otávio da Silveira, foi dada em tempo recorde. O pedido de habeas corpus foi registrado no fim da manhã de domingo, por volta das 11h. Antes das 17h, Avelar já havia ligado para o escrivão de Bom Despacho, onde Leandro estava preso, para pedir a expedição do alvará de soltura. “Como o desembargador Hélcio conseguiu analisar e decidir no mesmo dia e com tanta agilidade os dois habeas corpus protocolados em pleno domingo? No caso do habeas corpus de Leandro, a petição continha mais de 200 páginas de documentos”, questiona o relatório da PF.

O documento também levanta
outras perguntas a respeito da concessão dessas liminares: por que Hélcio Valentim não remeteu a decisão ao relator competente e concedeu a liminar no plantão, já que os traficantes soltos por ele estavam presos há muitos dias, portanto não era caso de urgência. “Como o advogado Walquir Alencar ficou sabendo que o desembargador responderia pelos habeas corpus protocolados no domingo dia 15, uma vez que pela internet essa informação não está disponível?” , é outra pergunta feita pela PF no relatório sobre o caso.
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Fonte:Fonte: http://correiodesantamaria.com.br

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