Enquanto centenas de trabalhadores rurais, dentre quais uma expressiva quantidade de quilombolas, acotovelam-se na Praça Pedro II, para protestar contra os desmandos e omissões dos governos estadual e federal, o partido político que outrora representava seus anseios discute seriamente posssibilidades de sobrevivência, na incoerência.
O PT foi construído para ser uma ferramenta de luta da classe trabalhadora. Seu programa expressava o ideário dos diversos movimentos sociais do país. À medida que o projeto de poder tomou forma, gradualmente assistimos o discurso do partido se descolar da prática.
Agora os movimentos sociais lutam sós, porque o PT no governo transmudou-se numa proposta muito pouco ousada, incapaz de romper o status quo. Órfãos de um programa político que possa expressar legitimamente suas bandeiras, os movimentos sociais hoje ensaiam aproximações com diversas linguagens políticas, muitas delas ainda incapazes de fazer a releitura do marxismo-leninismo clássico.
A ruptura com o PT, em processo contínuo, ainda não foi capaz de criar pontes entre o acúmulo experimentado pelos movimentos sociais e as novas ferramentas de lutas político-partidárias, inexperientes na arte de produzir tensões alanvacadas por discursos qualificados na dura faina por políticas públicas. Muitos desses segmentos reivindicatórios ainda encontram abrigo numa minoria petista que se debate para existir com dignidade política mínima. É o caso do deputado federal, Domingos Dutra, eleito recentemente pelo site Prêmio Congresso em Foco, como um dos melhores parlamentares do país.
No Maranhão, a perplexidade é maior, por conta de um suposto compromisso com a governabilidade do poder central, onde a historicidade e a legitmidade de qualquer militância social pressupõe uma opinião critíca ao domínio oligárquico. Aqui, o PT foi entregue como uma espécie de souvenir ao oligarca-mor, que contou com o pouco senso moral de petistas históricos - mas defensores de práticas políticas negativas, hoje profundamente enraizadas no partido.
A partir de um núcleo duro e dirigente, a atual hegemonia petista ousa desafiar e contrariar todos os princípios políticos que nortearam a atuação do partido, originalmente. O seu ciclo de permanência, enquanto projeto político vitorioso está apenas começando. Por isso, não há esperanças para quem fica - enquanto resistência às antigas e atuais opressões que se perpetuam dentro do governo conquistado.
Dentro de um espaço de movimentação cada vez menor, o grupo da resistência encontra farelos debaixo da mesa, para saciar a fome de dignidade e bom senso. Enquanto isso, o núcleo central hegemônico se refestela na mesa dos palácios, encontrando remédios paliativos para a doença crônica da desigualdade e da corrupção.
Um dos farelos mais curiosos, lançados à mendigância política da resistência é a tática eleitoral para a disputa das prefeituras, no ano que vem. De acordo com um raciocínio que mais parece um estertor da morte, restam aos resistentes a disputa das candidaturas nos municípios, pois a aliança com o PMDB não seria imposta novamente pelo diretório nacional. E assim, a avenida de antes foi se transformando em rua, depois em ruela, depois em vereda... até se transformar em beco sem saída, um destino final inexorável.
Fonte: blog do Pedrosa
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