sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ministros se mostram favoráveis à abertura de inquérito para investigar relação entre Lula e o mensalão



Valério prestou depoimento no Ministério Público no fim de novembro: denúncias contra Lula (Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Valério prestou depoimento



Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) defendem que o Ministério Público abra uma nova frente de investigação no mensalão. Três integrantes da Corte sugeriram ontem a apuração do suposto envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o escândalo de compra de apoio político no Congresso, conforme teria revelado em depoimento o empresário Marcos Valério. Questionado se o MP deve abrir um inquérito para analisar o caso, o presidente da Suprema Corte, Joaquim Barbosa, foi lacônico: “Creio que sim.”


Integrantes do STF têm dito, porém, que as revelações feitas por Valério, em depoimento prestado em setembro, não terão interferência no julgamento da Ação Penal 470, que deve ser concluído nesta semana. Barbosa preferiu não manifestar opinião sobre o assunto. Ele se limitou a dizer que teve acesso ao depoimento de forma “oficiosa”, e não oficial.

Reportagem publicada ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo detalha o depoimento que Marcos Valério, operador do mensalão, prestou à Procuradoria Geral da República, no qual ele disse que Lula autorizou a tomada dos empréstimos que financiaram o esquema de compra de apoio parlamentar. Segundo a publicação, parte do dinheiro foi utilizada para o pagamento de “despesas pessoais” do líder petista.

Caso o Ministério Público resolva investigar Lula, caberá à primeira instância do órgão abrir um possível inquérito, uma vez que o ex-presidente não tem a prerrogativa de foro para ser investigado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

O ministro do STF Marco Aurélio Mello afirma que Lula, por sua trajetória e experiência, “logicamente tinha o domínio ou pelo menos se presume que tinha o domínio do que acontecia no Brasil”. Para o ministro, uma nova investigação não seria sinônimo de falha na apuração feita pelo MP há sete anos pois, na época, segundo o magistrado, não havia elementos para a denúncia. “Agora, diante desses dados, ele (o MP) teria esses elementos”, destacou. O ministro observou que o crime de formação de quadrilha contra Lula, por exemplo, já estaria prescrito.

Marco Aurélio classificou de “grave” a suspeita de que o ex-presidente tenha participado do esquema. Ele avalia, porém, que Marcos Valério demorou para fazer as revelações. “Se houve ameaça, talvez ele (Valério) não tenha acreditado na concretização. Há um ditado popular que deve ser observado: depois da porta arrombada não adianta colocar fechadura.”

O ministro Gilmar Mendes também defende que o MP abra um inquérito para apurar as denúncias de Marcos Valério. “É uma questão que deverá ser examinada pela procuradoria. Eu não vou ficar falando sobre hipótese”, frisou Mendes, antes de observar que o procurador-geral da República se mostrou “desconfiado” em relação às declarações de Valério. “A procuradoria saberá avaliar a partir da consistência dos dados”, opinou. Marcos Valério pediu no depoimento para ser incluído no programa de proteção à testemunha, por avaliar que corre o risco de ser morto.

Ricardo Lewandowski, por sua vez, preferiu não opinar sobre o conteúdo do depoimento prestado por Valério, que coloca Lula sob a suspeita de envolvimento com o mensalão. “Não tive nenhum conhecimento, nenhum acesso. Não posso defender (uma investigação) e nem dizer o contrário porque não conheço o teor do depoimento”, afirmou.

O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse que não comentaria o teor da matéria que traz detalhes do depoimento de seu cliente. “Não confirmo e nem afirmo nada”, disse. Ele, porém, criticou o STF. “É inútil prestar colaboração à Justiça, porque quem mais colaborou desde 2005, fornecendo lista, recebeu a maior punição e não teve nenhum benefício de redução de pena. Esse é o recado que o Supremo passou”, reclamou o advogado.

Em nota à imprensa, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que as afirmações “vazadas de modo inexplicável” refletem uma “tentativa desesperada” de diminuir a pena de Valério no julgamento do mensalão. “Trata-se de uma sucessão de mentiras envelhecidas, todas elas já claramente desmentidas. É lamentável que denúncias sem nenhuma base na realidade sejam tratadas com seriedade. Valério ataca pessoas honradas e cria situações que nunca existiram”, destacou Falcão.

O delator do mensalão, Roberto Jefferson, criticou Valério em seu blog. “A credibilidade do carequinha já transitou em julgado, é zero. Não convenceu”, disse. “A história contada por Marcos Valério às procuradoras não me pareceu crível. Ele pode provar o que disse? Além do mais, delação premiada para salvar o próprio couro é coisa de canalha.”

Ameaça
No depoimento, Marcos Valério teria relatado também que foi ameaçado de morte por Paulo Okamotto, atualmente diretor do Instituto Lula. “Ou você se comporta ou morre”, teria dito o amigo de Lula a Marcos Valério. Okamotto negou ontem que tenha feito qualquer ameaça. “Não, não, não. Eu não tenho nenhum motivo para desejar o mal a Marcos Valério. Eu o conheci depois do episódio do mensalão, da história que ele contava que tinha feito empréstimos em nome das empresas dele para ajudar o PT”, afirmou em Paris

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