Juiz é sempre obrigado a
receber advogados em seu gabinete, a qualquer momento, durante o
expediente forense. E isso independentemente da urgência do assunto e de
que o juiz esteja fazendo. Ele pode até mesmo estar na elaboração de
uma decisão ou no meio de uma reunião de trabalho, mas não pode deixar
de atender o advogado.A orientação é do Conselho Nacional de
Justiça, ao responder consulta feita por um juiz da 1ª Vara da Comarca
de Mossoró, no Rio Grande do Norte. O relator foi o conselheiro Marcurs
Faver. O conselheiro explicou que “qualquer medida que condicione, crie
embaraço ou impeça o acesso do profissional advogado à pessoa do
magistrado, quando em defesa do interesse de seus clientes, configura
ilegalidade e pode caracterizar, inclusive, abuso de autoridade”.
“O
juiz, até pelas relevantes funções que desempenha, deve comparecer à
sua Vara diariamente para trabalhar, e atender ao advogado que o procura
no fórum faz parte indissociável desse seu trabalho, constituindo-se em
verdadeiro dever funcional. A jurisprudência é repleta de precedentes
enaltecendo o dever funcional dos magistrados de receber e atender ao
advogado, quando este estiver na defesa dos interesses de seu cliente”,
afirmou.
A decisão do CNJ foi lida, nesta quarta-feira (8/8), na
sessão do Conselho Federal da OAB. A Ordem vai divulgar o conteúdo do
despacho a todas as seções e seccionais da entidade.
Teste de conhecimento
Na
mesma sessão, o conselheiro federal da OAB, Evandro Luís Castello
Branco Pertence, defendeu que as prerrogativas profissionais dos
advogados deveriam ser conteúdo obrigatório nos exames e concursos
públicos para a magistratura, Ministério Público e demais carreiras
jurídicas.
“Hoje o bacharel em Direito pode se tornar juiz ou
promotor sem nunca ter visto ou ter conhecimento de quais são as
prerrogativas profissionais do advogado”, disse o conselheiro federal.
“Temos que lutar para que esse conteúdo sobre as prerrogativas seja
obrigatoriamente cobrado nos concursos públicos”, defendeu.
Evandro
Pertence lembrou que, apesar de representantes da OAB serem presença
freqüente nas bancas organizadoras e examinadoras dos concursos, as
prerrogativas profissionais da advocacia, no entanto, não fazem parte do
conteúdo cobrado. “Quem deseja enfrentar um concurso para juiz deveria,
obrigatoriamente, conhecer bem a parte do Estatuto da Advocacia que
trata das prerrogativas profissionais dos advogados”, finalizou.
Leia a íntegra da decisão do CNJ:
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Pedido de providência nº 1465
Requerente: José Armando Ponte Dias Júnior
Requerido: Conselho Nacional de Justiça
Vistos.
Trata-se
de consulta formulada ao Conselho Nacional de Justiça pelo Juiz de
Direito Titular da 1ª Vara Criminal da Comarca de Mossoró-RN, Dr. José
Armando ponte Dias Júnior, nos seguintes termos.
1) Pode o
magistrado reservar período durante o expediente forense para dedicar-se
com exclusividade, em seu gabinete de trabalho, à prolação de
despachos, decisões e sentenças, recebendo os advogados em seu gabinete
de trabalho, em tais períodos, somente quando se trate de providência
que reclame e possibilite solução de urgência, a critério do Diretor de
Secretaria da respectiva da Vara?”
2) “O magistrado é sempre
obrigado a receber advogados em seu gabinete de trabalho, a qualquer
momento durante o expediente forense, independentemente da urgência do
assunto, e independentemente de estar em meio à elaboração de qualquer
despacho, decisão ou sentença, ou mesmo em meio a uma reunião de
trabalho?”
Sucintamente relatados, decido.
A presente
consulta envolve questão de extrema singeleza, claramente explicitada em
texto legal expresso, razão pela qual a respondo monocráticamente, sem
necessidade de submissão ao Plenário.
Como admite o próprio
consulente, inciso VIII do art. 7º da Lei nº 8.906/94 estabelece que são
direitos do advogado, dentre outros, “dirigir-se diretamente aos
magistrados nas salas e gabinetes de trabalho, independentemente de
horário previamente marcado ou outra condição observando-se a ordem de
chegada”.
Ante a clareza do texto legal, indiscutível é a
conclusão de que qualquer medida que condicione, crie embaraço ou impeça
o acesso do profissional advogado à pessoa do magistrado, quando em
defesa do interesse de seus clientes, configura ilegalidade e pode
caracterizar, inclusive, abuso de autoridade.
Não há, como parece
sugerir o consulente, qualquer conflito entre a presente disposição de
lei ordinária e a prevista no inciso IV do art. 35 da Lei Orgânica da
Magistratura Nacional – LOMAN
Com efeito, o referido dispositivo
da LOMAN, ao estabelecer como dever funcional do magistrado tratar com
urbanidade os advogados e atender a todos os que o procurarem, a
qualquer momento, quando se trate de providência que reclame e
possibilite solução de urgência, em momento algum autoriza o Juiz a
criar horário especial de atendimento a advogados durante o expediente
forense.
Em uma interpretação teleológica da norma, a
condicionante de “providência que reclame e possibilite solução de
urgência” há de ser associada, necessariamente, à expressão “a qualquer
momento”, o que pressupõe situação excepcional, extraordinária, como ,
por exemplo, quando o magistrado se encontra em seu horário de repouso,
durante a madrugada ou mesmo em gozo de folga semanal, jamais em
situação de normalidade de expediente forense rotineiro.
O Juiz,
até pelas relevantes funções que desempenha, deve comparecer à sua Vara
diariamente para trabalhar, e atender ao advogado que o procura no fórum
faz parte indissociável desse seu trabalho, constituindo-se em
verdadeiro dever funcional.
A jurisprudência é repleta de
precedentes enaltecendo o dever funcional dos magistrados de receber e
atender ao advogado, quando este estiver na defesa dos interesses de seu
cliente:
“ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. DELIMITAÇÃO DE HORÁRIO PARA ATENDIMENTO A ADVOGADS.
ILEGALIDADE ART. 7º INCISO VIII DA LEI Nº 8.906/94. PRECEDENTES.
1. A delimitação de horário para atendimento a advogaods pelo magistrado viola o art. 7º, inciso VIII, da lei nº 8.906/94.
2. Recurso ordinário provido.” (STJ, 2ª Turma, RMS nº 15706/PA, Rel. Min. João Otávio de Noronha, in DJ 07/11/2005, p. 166)
“ADVOGADO
– DIREITO DE ENTREVISTAR-SE COM MAGISTRADO – FIXAÇÃO DE HORÁRIO –
ILEGALIDADE – LEI 8.906/94 ART. 7º, VIII). É nula, por ofender ao art.
7º, VIII da Lei 8.906/94, a portaria que estabelece horários de
atendimento de advogado pelo juiz” (STJ, 1ª Truma, RMS nº 13262/SC, Rel.
Desig. Min. Humberto Gomes de Barros, in DJ 30/09/2002, p. 157)”
“ADMINISTRATIVO
– ADVOGADO – DIREITO DE ACESSO A REPARTIÇÕES PÚBLICAS – (LEI 4215 –
ART. 89,VI, C). A advocacia é serviço público, igual aos demais,
prestados pelo Estado. O advogado não é mero defensor de interesses
privados. Tampouco, é auxiliar do juiz. sua atividade, como “particular
em colaboração com o Estado” e livre de qualquer vínculo de subordinação
para com magistrados e agentes do ministério público. O direito de
ingresso e atendimento em repartições públicas (art. 89,VI,”c” da lei n.
4215/63) pode ser exercido em qualquer horário, desde que esteja
presente qualquer servidor da repartição. A circunstância de se
encontrar no recinto da repartição no horário de expediente ou fora dele
– basta para impor ao serventuário a obrigação de atender ao advogado. A
recusa de atendimento constituirá ato ilícito. Não pode o juiz vedar ou
dificultar o atendimento de advogado, em horário reservado a expediente
interno. Recurso provido. Segurança concedida.” (STJ, 1ª Turma, RMS nº
1275/RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, in DJ 23/03/92, p. 3429)
Fixadas tais premissas, respondo às consultas
formuladas nos seguintes termos:
1)
NÃO PODE o magistrado reservar período durante o expediente forense
para dedicar-se com exclusividade, em seu gabinete de trabalho, à
prolação de despachos, decisões e sentenças, omitindo-se de receber
profissional advogado quando procurado para tratar de assunto
relacionado a interesse de cliente. A condicionante de só atender ao
advogado quando se tratar de medida que reclame providencia urgente
apenas pode ser invocada pelo juiz em situação excepcionais, fora do
horário normal de funcionamento do foro, e jamais pode estar limitada
pelo juízo de conveniência do Escrivão ou Diretor de Secretaria, máxime
em uma Vara Criminal, onde o bem jurídico maior da liberdade está em
discussão.
2) O magistrado é SEMPRE OBRIGADO a receber advogados
em seu gabinete de trabalho, a qualquer momento durante o expediente
forense, independentemente da urgência do assunto, e independetemente de
estar em meio à elaboração de qualquer despacho, decisão ou sentença,
ou mesmo em meio a uma reunião de trabalho. Essa obrigação se constitui
em um dever funcional previsto na LOMAN e a sua não observância poderá
implicar em responsabilização administrativa.
Dê-se ciência da
presente decisão ao Consulente e ao Corregedor Geral da Justiça do
Estado do Rio Grande do Norte, autoridade administrativa responsável
pela observância do estrito cumprimento dos deveres funcionais dos
magistrados de 1º grau vinculados ao Tribunal de Justiça do Estado do
Rio Grande do Norte.
Brasília, 04 de junho de 2007.
Conselheiro MARCUS FAVER
Relator
http://www.conjur.com.br/2007-ago-08/juiz_nao_recusar_receber_advogado_reafirma_cnj
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