quinta-feira, 18 de julho de 2013

Seguir em frente

Por Alexandre Neto*
Os políticos estão perplexos. A política estagnada. Os primeiros foram pegos em flagrante. Flagrante de indiferença e menosprezo ao eleitorado em geral, mas agora estão aprisionados por multidões, que por sua vez encontram-se cercadas pela Polícia. A mesma Polícia que há cinquenta anos prendia e arrebentava. Ela continua a mesma. Foi o “Rex” da ditadura e agora é o Pit Bull da “democracia”. Aqueles que dela foram vítimas e se postaram de “perseguidos”, hoje a colocam para perseguir e vitimizar, impiedosamente. A história é cruel e se repete de forma irônica e jocosa.
Os políticos se valeram do direito ao silêncio. Só querem falar na justiça. Nessa mesma justiça que condena, mas não pune. Que julga e aprisiona rapidamente os pobres, mas que aceita os embargos dos apaniguados do poder. Esquecem-se de que o silêncio os condena, e que a omissão contumaz e o descaso só agora os pune. E a punição lhes é exemplar: estão proibidos de se misturar nas multidões. Não podem empunhar as bandeiras de seus partidos e nem sequer falar aos microfones, pois as suas mentiras não interessam. Não têm o que dizer diante da indignação popular. Aliás, não sabem sequer onde procurar os votos daqui por diante. Também não são mais os cidadãos que ousaram ser há cinquenta anos, quando estudavam em universidades e se indignavam com a ditadura militar e a opressão.
Agora, no poder, repetem os mesmos erros daqueles que hoje estão sujeitos à “Comissão da Verdade”. Talvez seja chegada a hora de se criar a “Comissão da Mentira”. Aquela mesma mentira citada por Rui Barbosa na “Conferência às Classes Conservadoras”, pronunciada na Associação Comercial do Rio de Janeiro em 8 de março de 1919, que até hoje se mostra atual:
"Mentira toda ela.(...) Mentira nos relatórios. Mentira nos inquéritos (...) A mentira geral. O monopólio da mentira. Uma impregnação tal das consciências pela mentira, que se acaba por não discernir a mentira da verdade, que os contaminados acabam por mentir a si mesmos, e os indenes, ao cabo muitas vezes, não sabem se estão ou não mentindo. Um ambiente, em suma, de mentiraria, que, depois de ter iludido ou desesperado os contemporâneos corre o risco de lograr ou desesperar os vindouros, a posteridade, a história, no exame de uma época, em que, à força de se intrujarem uns aos outros, (...) afinal, se encontram burlados pelas suas próprias burlas, e colhidos nas malhas de sua própria intrujice, como é precisamente agora o caso." - Rui Barbosa –
Não me pego mais lendo jornais para decifrar as explicações de sociólogos e antropólogos acerca do inusitado acontecimento em nossa nação. Pensei que fosse morrer sem ver qualquer reação desse povo marcado, povo feliz... conhecido mundialmente por sua amabilidade. Mas o pão e o circo já não mais são suficientes para conter a choldra, que finda por nos dar sua resposta na exata proporção da sociedade que ela encarna, ou seja, enquanto a maioria ordeira reivindica e anseia por um país melhor, uma minoria - que muito se assemelha aos maus políticos - aproveita a oportunidade para delinquir e saquear o que lhe aproveita. O futebol deixou de ser mais importante do que as pautas que envolvem a saúde, a educação e a segurança. Indignação é a palavra chave para os políticos começarem a decifrar as atitudes manifestadas pelo movimento embrionário do “Passe Livre”, que agora também revolve a corrupção deslavada e a impunidade desenfreada que mantêm incólumes alguns criminosos importantes em nosso País, geralmente abrigados por um foro privilegiado ou acobertados por interesses políticos escusos.
O muro de Berlim caiu em 1989. O comunismo tornou-se algo saudosista. Para a sociedade moderna a esquerda ou a direita deixaram de ter qualquer importância no mundo político, pois o que realmente interessa é seguir em frente, sem pender para qualquer lado, afinal nunca se sabe qual é o certo, até porque sempre cometem os mesmos erros. Avante, povo! Avante, gente!"
*Alexandre Neto é delegado da Polícia Civil do Rilo



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