Por Alexandre Neto*
Os políticos estão perplexos. A política
estagnada. Os primeiros foram pegos em flagrante. Flagrante de
indiferença e menosprezo ao eleitorado em geral, mas agora estão
aprisionados por multidões, que por sua vez encontram-se cercadas pela
Polícia. A mesma Polícia que há cinquenta anos prendia e arrebentava.
Ela continua a mesma. Foi o “Rex” da ditadura e agora é o Pit Bull da
“democracia”. Aqueles que dela foram vítimas e se postaram de
“perseguidos”, hoje a colocam para perseguir e vitimizar,
impiedosamente. A história é cruel e se repete de forma irônica e
jocosa.
Os políticos se valeram do direito ao silêncio. Só querem
falar na justiça. Nessa mesma justiça que condena, mas não pune. Que
julga e aprisiona rapidamente os pobres, mas que aceita os embargos dos
apaniguados do poder. Esquecem-se de que o silêncio os condena, e que a
omissão contumaz e o descaso só agora os pune. E a punição lhes é
exemplar: estão proibidos de se misturar nas multidões. Não podem
empunhar as bandeiras de seus partidos e nem sequer falar aos
microfones, pois as suas mentiras não interessam. Não têm o que dizer
diante da indignação popular. Aliás, não sabem sequer onde procurar os
votos daqui por diante. Também não são mais os cidadãos que ousaram ser
há cinquenta anos, quando estudavam em universidades e se indignavam com
a ditadura militar e a opressão.
Agora, no poder, repetem os
mesmos erros daqueles que hoje estão sujeitos à “Comissão da Verdade”.
Talvez seja chegada a hora de se criar a “Comissão da Mentira”. Aquela
mesma mentira citada por Rui Barbosa na “Conferência às Classes
Conservadoras”, pronunciada na Associação Comercial do Rio de Janeiro em
8 de março de 1919, que até hoje se mostra atual:
"Mentira toda
ela.(...) Mentira nos relatórios. Mentira nos inquéritos (...) A mentira
geral. O monopólio da mentira. Uma impregnação tal das consciências
pela mentira, que se acaba por não discernir a mentira da verdade, que
os contaminados acabam por mentir a si mesmos, e os indenes, ao cabo
muitas vezes, não sabem se estão ou não mentindo. Um ambiente, em suma,
de mentiraria, que, depois de ter iludido ou desesperado os
contemporâneos corre o risco de lograr ou desesperar os vindouros, a
posteridade, a história, no exame de uma época, em que, à força de se
intrujarem uns aos outros, (...) afinal, se encontram burlados pelas
suas próprias burlas, e colhidos nas malhas de sua própria intrujice,
como é precisamente agora o caso." - Rui Barbosa –
Não me pego
mais lendo jornais para decifrar as explicações de sociólogos e
antropólogos acerca do inusitado acontecimento em nossa nação. Pensei
que fosse morrer sem ver qualquer reação desse povo marcado, povo
feliz... conhecido mundialmente por sua amabilidade. Mas o pão e o circo
já não mais são suficientes para conter a choldra, que finda por nos
dar sua resposta na exata proporção da sociedade que ela encarna, ou
seja, enquanto a maioria ordeira reivindica e anseia por um país melhor,
uma minoria - que muito se assemelha aos maus políticos - aproveita a
oportunidade para delinquir e saquear o que lhe aproveita. O futebol
deixou de ser mais importante do que as pautas que envolvem a saúde, a
educação e a segurança. Indignação é a palavra chave para os políticos
começarem a decifrar as atitudes manifestadas pelo movimento embrionário
do “Passe Livre”, que agora também revolve a corrupção deslavada e a
impunidade desenfreada que mantêm incólumes alguns criminosos
importantes em nosso País, geralmente abrigados por um foro privilegiado
ou acobertados por interesses políticos escusos.
O muro de Berlim
caiu em 1989. O comunismo tornou-se algo saudosista. Para a sociedade
moderna a esquerda ou a direita deixaram de ter qualquer importância no
mundo político, pois o que realmente interessa é seguir em frente, sem
pender para qualquer lado, afinal nunca se sabe qual é o certo, até
porque sempre cometem os mesmos erros. Avante, povo! Avante, gente!"
*Alexandre Neto é delegado da Polícia Civil do Rilo
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