texto colhido do blog do pedrosa.
No Maranhão, de forma geral, os editoriais são tolos. Quem faz editorial também geralmente não são os melhores profissionais dos nossos jornalecos. Por vezes somos obrigados a ler raciocínios paridos com muito esforço, como se fosse difícil extrair conclusões lógicas dos fatos.
No editorial "O Capeta veio Descansar no Maranhão", sou indagado como soube que a rebelião iria ocorrer, como se estivesse escondendo alguma coisa. Embora no editoral do dia anterior, desse mesmo jornal, a resposta já esteja em parte respondida, esclareço:
01. Não apenas o sindicato dos agentes penitenciários sabia que uma rebelião estava a caminho;
02. Fui procurado por vários profissionais de mídia, para falar sobre o assunto, no período da falta de água;
03. Familiares e advogados de presos já relatavam naquele período que a panela estava em ebulição.
Nunca tive à minha disposição um serviço de arapongagem para saber o que acontece no interior de presídios. Não tenho acesso à gravações telefônicas, embora desconfie que o meu esteja grampeado. Já surpreedi agentes da Abin rondando e fotografando minha residência, não sei para quê e porquê.
Quando cheguei ao presídio, a convite, primeiro do Secretário de Estado de Direitos Humanos, Sérgio Tamer, depois, do Secretário Adjunto de Administração Penitenciária, Bispo Serejo, não pretendia compor nenhuma comissão de negociação.
Tanto eu quanto o advogado Eduardo Calado fomos vistos a princípio como meros empecilhos ao andamento das negociações, até aquele momento conduzida solitariamente pelo Major Vaz. Mas os presos nos viram do pavilhão rebelde e pediram a nossa presença nas negociações. Esse é o detalhe: advogados falam diretamente com os presos, sem pânico e sem colete à prova de balas.Quando esse advogado é defensor dos direitos humanos, melhor ainda.
Defensores de direitos humanos sabem o que ocorre dentro de presídios por força do ofício. Nós ouvimos não apenas os presos (seja pessoalmente, seja por ligações sistemáticas de telefones celulares que entram nos presídios - aliás, achei estranho o Secretário de Segurança afirmar com espanto que os presos rebelados estavam se comunicando com outros presídos por telefones celulares), mas também os familiares dos presos e seus advogados.
Celular no presídio é algo tão normal quanto arma e droga. Não é mesmo? É hipocrisia dizer que não. As autoridades prisionais geralmente fazem um discurso hipócrita sobre os presídios e é por isso que a coisa não melhora. As autoridades não podem dizer que sabem de tudo isso, sob pena de perderem "simbolicamente" as cabeças. Serão acusadas de incompetentes pelo grupo político mais oportunista de plantão.
As autoridades prisionais não podem reconhecer que não têm o controle dos presídios. Contudo, presídios funcionam com leis próprias. O Estado apenas faz de conta que está no controle.
Presos rebelados às vezes contracenam. Jogam o jogo. Aproveitam-se do momento para se livrar de incômodos e obter pequenas vitórias pontuais. Mas também escondem alguns dos seus objetivos. Daí que rebeliões são planejadas com data e hora para terminar. Não adianta fazer gracinha com preso rebelado. Ele está no controle. Ele aprendeu a ser cruel com o sistema, mas sabe dos seus limites. É o jogo. Todos jogam, mas fingem não jogar. Nós sabemos de algumas regras ocultas desse jogo, porque não somos hipócritas. Por isso denunciamos. E não desconhecemos que denunciando jogamos uma parte desse jogo. Mas é preciso denunciar,sob pena de omissão, embora as denúncias por vezes aproveitem a alguém que joga sujo.
Digamos que apenas temos um serviço de inteligência mais democrático e transparente. E usamos isso para acabar um dia com o jogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário