domingo, 30 de junho de 2013

Advogado é expulso de delegacia

Repasses federais para São Bento

Transparência nos Municípios - São Bento (MA)

numeroConveniosConcedenteMunicipio

Repasses do Governo Federal para o município em junho de 2013:
R$ 1.228.522,00
Repasses do Governo Federal para o município acumulado em 2013:
R$ 21.891.228,16

Recursos Recebidos do Governo Federal em 2013

Recursos Recebidos por Área
Encargos Especiais -------------------------------------------------------------------------------- R$13.603.279,32
Assistência Social -------------------------------------------------------------------------------- R$7.221.624,00
Educação -------------------------------------------------------------------------------- R$954.937,34
Desporto e Lazer -------------------------------------------------------------------------------- R$111.387,50
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Recursos Recebidos por Ação
FUNDEB -------------------------------------------------------------------------------- R$7.655.635,11
FPM - CF art. 159 -------------------------------------------------------------------------------- R$5.683.359,82
PDDE -------------------------------------------------------------------------------- R$624.080,00
Apoio à Alimentação Escolar na Educação Básica -------------------------------------------------------------------------------- R$281.046,00
Cota-parte dos Estados e ... -------------------------------------------------------------------------------- R$161.197,64
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Recursos Pagos Direto ao Cidadão
Bolsa Família -------------------------------------------------------------------------------- R$7.221.624,00
 
 

Total arrecadado pela prefeitura em 2013

 
 
 
 
Com essa grana toda arrecadada   fica  a pergunta pra onde  tá indo esse  dinheiro?  Não dá pra   tapar  esses buracos que estão por toda a cidade? E os socorrões não dá pra funcionar  melhor?
 
 
 

sábado, 29 de junho de 2013

Depois da redemocratização (1985), o deputado Donadon é o primeiro político a ser preso (no caso, por peculato e formação de quadrilha).

  • Meus amigos: Depois da redemocratização (1985), o deputado Donadon é o primeiro político a ser preso (no caso, por peculato e formação de quadrilha). Não sou adepto da prisão para todo mundo, de qualquer forma, quem olha desavisadamente o poder punitivo real, no Brasil, conclui que ele é expressão direito penal mínimo, porque muitos mais políticos poderiam estar encarcerados. Isso comprova que a Justiça criminal sempre funciona seletivamente. Para a cadeia (que faz parte do sistema de controle social, que é guiado pela ordem econômica e financeira) os juízes somente mandam gente dos 5 primeiros pês: pobres, pardos, pretos, prostitutas e policiais. A esses agora temos que agregar os políticos. A cadeia, assim, chegou ao seu sexto "pê". O castigo, quanto mais duro, mais satisfaz o desejo popular. Mas em todos os casos de crimes não violentos talvez o melhor fosse a pena de empobrecimento. Porque no Brasil o corrupto é condenado, às vezes vai para a cadeia, mas continua rico. Avante Brasil!

O antropólogo Luiz Eduardo Soares Fala sobre as manifestações nas ruas do Brasil

Entrevista a Angela Faria, no caderno Pensar do Estado de Minas

Entrevista a Angela Faria, no caderno Pensar do Estado de Minas – publicado em 22 de junho, 2013

Luiz Eduardo Soares
(Antropólogo, cientista político e escritor, professor da UERJ)

As perguntas são as seguintes:

(1) Que lições a moçada está dando ao país? Diz-se que a “desorganização” do movimento deles pode levar: 1º) a nada. 2) ao reforço de posturas conservadoras, dos “neocons” verde-amarelos. Você concorda?

Resposta: A primeira lição que os jovens nas ruas nos dão é a seguinte: as coisas podem mudar, porque somos nós que fazemos a história, combinando liberdade e limites, circunstâncias e oportunidades, imaginação e ousadia, disposição solidária para empreendimentos coletivos, em torno do interesse público, evocando valores fundamentais –tais como equidade e justiça—e repudiando o autoritarismo tecnocrático dos governos, que desprezam a participação e só dialogam com os lobistas dos grandes interesses privados. As coisas podem mudar se acreditarmos nisso e a alma não for pequena.
Mas mudar como e em que direção, com quais consequências, a que preço? Não sei. Não se sabe em que vai dar o movimento, não se pode saber, nem há garantias. E aí está o primeiro ponto sem cujo reconhecimento não produziremos as condições indispensáveis à futura compreensão do que o movimento significa. Nesse momento, é necessário afirmar com humildade nossa ignorância ante um processo cuja natureza nos desafia, intelectualmente. Explico: diante de um fenômeno que rompe a rotina e surpreende a expectativa de estabilidade, as reações individuais são as mais variadas. Entretanto, de um modo geral, nosso primeiro impulso é defensivo. Qualquer mudança nos ameaça porque traz consigo a fantasia de que nosso mundo pessoal tão precário e incerto está em risco e pode ruir a qualquer momento. Essa fantasia provém da radical insegurança que nos é constitutiva, seres mortais que somos. Não apenas a vida humana é frágil como aquilo que chamamos “realidade” é débil e movediço.
Nossa tendência, portanto, é projetar nossas categorias e nosso modo de pensar sobre os fatos novos para descrevê-los exorcizando o que, neles, é novo e inscreve uma diferença em nossos esquemas cognitivos e em nosso sistema de práticas. Projetar o velho sobre o potencialmente novo apenas confirma nossas crenças, apazigua a angústia suscitada pelo desconhecido e presta um serviço a nosso aparato de autodefesa, domesticando a diferença e anulando sua força questionadora.
Em outras palavras: explicações que funcionam como consagrações do que já se sabe –ou se supõe saber—não produzem conhecimento. Se o propósito é conhecer, devemos desnaturalizar as imagens já formadas, inclusive porque, nesse campo, toda interpretação é também intervenção, é também ação social.

(2) Gostaria que vc nos falasse sobre os desafios que esse novo quadro traz para o sistema de segurança pública. Como a polícia e o batalhão de choque devem agir diante dessa nova conjuntura? Como tratar o pessoal que depreda, invade prédios públicos?

Resposta: Como diziam alguns cartazes, no Rio: “Desculpem o transtorno: estamos mudando o país”. Ou: “Não é Turquia, não é a Grécia, é o Brasil despertando da inércia”. Em outras palavras, não se muda sem turbulências. Perdão, pedestres, a cidade está em obras para servi-los. Como sabemos, reformar faz barulho. Tumultua. Não tem jeito. É claro que a participação massiva traz problemas para a segurança pública, mas não pode ser definida como um problema de segurança. Trata-se de um dilema que está longe de ser simples, pois é preciso respeitar a liberdade de manifestação, preservar o patrimônio público e garantir os direitos violados por eventuais agressões violentas, as quais têm ocorrido, mas, é necessário sublinhar, apenas por iniciativa de minorias e contra a vontade manifesta da massa. Não há solução perfeita, nem receitas, mas princípios gerais que, observados, pelo menos reduzem os danos: a polícia não pode estar armada; e, atenção: não há armas não-letais –as assim chamadas são menos letais, porém também matam e ferem gravemente. A presença policial deve restringir-se a locais estratégicos, visando a defesa de posições chave. Todos devem compreender que os policiais não são inimigos dos manifestantes e vice-versa. Mas essa compreensão depende de atitudes claras por parte dos policiais. Deve-se difundir a ideia de que cabe a todos evitar a violência de todo tipo em benefício da coletividade e do próprio movimento. Mesmo não havendo lideranças formais ou consensuais, está patente o intuito pacífico da imensa maioria dos que se envolvem –e disso dou testemunho como participante. Quem pratica violência agride o próprio movimento, segundo a percepção da maioria. A tendência é que o próprio movimento iniba a ação dos que traem seu espírito. Se a polícia usa recursos que realimentam o ciclo vicioso, contribui, paradoxalmente, para recompor a unidade do grupo, quando seria mais saudável que autogestionariamente as dinâmicas coletivas múltiplas inventassem meios não-violentos de reduzir a violência, diferenciando-se, internamente, e pactuando suas condições de convívio ou de existência política. Não há dúvida de que a brutalidade criminosa de segmentos policiais, em algumas cidades, ofereceu o combustível que faltava para que o movimento mudasse de escala, ampliando-se extraordinariamente as adesões. Os custos materiais (e pessoais) de algumas ações violentas e condenáveis cometidas por manifestantes foram infinitamente menores do que os prejuízos que advieram das tentativas policiais, mesmo as bem intencionadas, de evitá-los. É momento de confiar mais na responsabilidade coletiva dos cidadãos que se manifestam, porque o fazem justamente em torno de temas republicanos e democráticos, por mais que sejam variadas as motivações. Esse não é momento de polícia. A segurança tem de ser a da massa que se manifesta. A praça é do povo. Ou a coletividade em movimento respeitará limites ou terá de arcar com o desafio de ver-se traindo, na prática –em função de divisões internas que são inteiramente naturais e incontroláveis–, alguns de seus valores, em se considerando aqueles que têm sido evocados, nas manifestações. Isso envolve riscos, claro, mas não há alternativas melhores. Digo isso porque é irrealista supor que alguma polícia do mundo possa controlar multidões nas ruas, sem consequências trágicas em grandes proporções, sem aumentar o mal que, supostamente, deseja evitar, e sem fortalecer o segmento sectário e violento da massa de manifestantes –segmento que, no Brasil, é residual. A questão é perigosa para a segurança pública, por óbvio, mas não há nada que as instituições da segurança possam fazer, além de reduzir danos e envolver-se o mínimo. Esse é o tempo da sociedade e dos políticos, de negociação e abertura ao diálogo, de criatividade e flexibilidade, de autocrítica profunda, de repactuação em torno do próprio sistema político. Tempo de imprevisibilidade e sustos, riscos e ameaças, mas também de beleza: o novo insinuando-se pelas frestas de nossa democracia, que sofre de esclerose precoce.
No âmbito da inadiável repactuação nacional, inclui-se a reforma da arquitetura institucional da segurança pública, o que envolveria a refundação do modelo policial, particularmente a desmilitarização das polícias ostensivas. Não se trata de viés ideológico. As PMs são incompatíveis com a democracia, malgrado esforços de tantos de seus profissionais, porque estão organizadas à semelhança do Exército, cuja finalidade é defender o território nacional e preservar a soberania do país, fazendo a guerra, no limite. Precisa funcionar com a metodologia do pronto emprego, para cumprir seus objetivos constitucionais. Necessita de centralização e vertebração hierárquica rigorosa. A missão constitucional de uma polícia ostensiva e preventiva, uniformizada, é garantir a vida, a incolumidade física e os direitos dos cidadãos, fazendo com que as leis sejam observadas. Como se vê, os fins são inteiramente distintos. Por que a organização deveria ser a mesma? Sabemos que a melhor forma de uma organização é aquela que melhor serve ao cumprimento das finalidades da instituição. Portanto: fins distintos, formatos organizacionais diferentes. As PMs envolvem-se em confrontos armados, é verdade. Mas esses enfrentamentos correspondem a 1% de suas atividades diárias. Para fazer face a esse tipo de desafio, há espaço para a formação de unidades especializadas. É absurdo comprimir 99% no molde ortopédico que, quando muito, equivaleria à necessidade de 1%.

(3) A democracia direta está nas ruas. O que isso significa? Como fica a democracia representativa agora?

Resposta: Esse é o nervo exposto do dilema nacional. Reitero que, em primeiro lugar, devo dizer: não sei. O que, hoje, dá-se a pensar o será à sombra do reconhecimento de minha ignorância ante eventos que inscrevem a diferença em nossos esquemas cognitivos e nos modelos tradicionais de ação coletiva. Eventos, portanto, que disparam uma dinâmica cujos desdobramentos são imprevisíveis e cuja natureza ignoramos, porque nada está dado e tudo se constitui, no processo, em sua potividade e contingência. Dito isso, ouso sugerir a seguinte interpretação: o movimento declara à nação que o rei está nu, proclama em praça pública que a representação parlamentar ruiu, depois que, capturada pelo mercado de votos, resignou-se a reproduzir mandatos em série, com obscena mediocridade, sem qualquer compromisso com o interesse público, ostentando o mais escandaloso desprezo pela opinião pública. O colapso da representação vem ocorrendo sem que as lideranças dêem mostras de compreender a magnitude do abismo que se abriu –e aprofunda-se, celeremente– entre a institucionalidade política e o sentimento da maioria. As denúncias de corrupção se sucedem, endossando a visão negativa que, injustamente, mas compreensivelmente, generaliza-se. O executivo prestigiado, em contexto de dinamismo econômico, pleno emprego e redução de desigualdades, sob a aura carismática de Lula, freiou o desgaste do Estado, já avançado em sua face parlamentar. Quando o modelo começa a dar sinais de que está claudicando, a corrosão contamina a legitimidade (a credibilidade) de todas as áreas do Estado. Outro ponto importante: Tocqueville demonstrou que os segmentos sociais mais dispostos a agir e reagir não são os mais pobres e impotentes, mas aqueles que têm o que perder. Isso significa que os avanços sociais das últimas duas décadas ampliaram a faixa da população potencialmente disposta a resistir ante o risco de perda. Aqueles que ascenderam não entregarão sem luta suas conquistas.
Se o que digo faz sentido, ou o Parlamento abre os olhos e os ouvidos e promove uma radical auto-reforma, o que implica a transformação profunda do sistema político –não só eleitoral– (mas falta grandeza e visão para isso, ou não teríamos chegado onde chegamos), ou caminhamos para cenários críticos. Não apocalípticos, mas críticos, marcados pelo esgarçamento das mediações institucionais e a corrosão mais profunda da legitimidade do Estado, em seu conjunto. Quando Estado e sociedade afastam-se, em ambiente normativo democrático, há chances de reconstrução, mas também riscos de bonapartismos aventureiros.
Observemos ainda o seguinte ponto: o valor do transporte é apenas a cabeça de um imenso iceberg, formado por sua qualidade e pelo verdadeiro drama em que se converteu a mobilidade urbana. Formou-se uma cadeia metonímica no imaginário individual e coletivo, que transporta os significados do preço da tarifa às jornadas desumanas a que os trabalhadores têm sido submetidos, estendendo-se daí a outros aspectos negativos da experiência popular nas cidades: a precariedade do emprego ou do trabalho, as condições desiguais de moradia, saúde, educação, segurança e acesso à Justiça. Os elos de contiguidade simbólica e política conectam problemas entre si, acentuando sua marca permanente: a desigualdade.
Portanto, além da questão de método democrático, estão em pauta, nas ruas, as questões substantivas mais graves e urgentes. Isso significa que não só o Parlamento deve abrir os olhos, também os poderes executivos. Um governador sintonizado sairia na frente, propondo uma agenda de repactuação com a sociedade em torno da identificação de um plano modular –mas ambicioso e radical– de reformas, em torno não só do transporte público, da mobilidade urbana e de nosso irracional modelo econômico refém da indústria automobilística, mas também quanto aos investimentos: qual o lugar da Copa em nossa escala de prioridades? Que regiões das cidades vão receber investimentos? Que tipo de investimentos? Onde fica a participação efetiva da sociedade? Como reverter o autoritarismo tecnocrático, que acaba expressando interesses econômicos óbvios? Qual o lugar da sustentabilidade?
Tudo isso aponta para um dado central: o colapso do PT como canal que por duas décadas expressou anseios por participação e atuou como instrumento de resistência ao autoritarismo tecnocrático do Estado brasileiro. Os governos petistas cooptaram entidades, aparelharam o Estado e domesticaram movimentos, com absoluto desprezo pela democracia e pelo sentido profundo da participação da sociedade. Produziram um vazio oceânico, que acabou preenchido pelo protagonismo emergente. Assim, a festa democrática nas ruas é também o funeral do PT, não como aparelho que investe no mercado de votos, mas como ator capaz de restaurar a credibilidade na representação. A ausência da UNE é eloquente e escandalosa.

(4) Há forças políticas classificando o novo momento como “manifestação autoral” — Marina disse algo assim no YouTube. Vc concorda? O que de novo isso traz para a cena política?

Resposta: Concordo. Marina está certíssima. Não faz mais sentido empregar o vocabulário que encadeava classe, organicidade, consciência de classe, partido, vanguarda intelectual, organizações da sociedade civil, enfim, coletividades radicadas em posições estruturais. Os atores, eventualmente, são coletivos, mas tendem a ser, crescentemente, individuais, unindo-se provisoriamente em função de temas circunstanciais, para agir contingencialmente, constituindo e desconstituindo agregações, deslocando-se por constelações de valores e opções práticas como o errante do novo século, o peregrino virtual, o nômade que, em vez de aderir a identidades institucionalizadas e crenças sincréticas, opera como sujeito sincrético, a editar possibilidades, trajetórias e experiências, reinventando-se na bricolage de si mesmo. Esse quadro não se confunde com individualismo, pois este novo personagem individual não se reduz ao ser egoísta e exclusivamente autointeressado, nem ao consumidor adaptado, inebriado pelo neon fetichista do mercado.
A implicação política prenuncia-se: talvez tenhamos, como ocorre no campo religioso, menos identificações fixas e mais migração, menos escolha no cardápio que vem pronto e mais composição de dietas políticas idiossincráticas. Esse quadro envolveria rejeição a partidos e apoio a candidaturas avulsas da sociedade por mandatos limitados e não renováveis, por menores períodos de tempo e com mais transparência, etc… E atenção: o tempo da política está sendo reinventado. Deixou de resumir-se ao ciclo eletoral.

(5) Gostaria que vc nos falasse sobre a internet. Sempre se disse que a moçada só sabia se manifestar apertando a tecla do gostei no Face. Aqui em BH, os cartazes “Saí do Face” deram o maior ibope. O que te sugere esse “rito de passagem” da touch screen para a praça? Pertencimento? Todos estão munidos de celulares, registrando com suas câmeras a si próprios e aos colegas…

Resposta: Sobre a relação dos manifestantes com a internet, escrevi o seguinte, em artigo recente: a participação em redes aproxima os brasileiros do modelo globalizado de tomada dos espaços públicos como método de democracia direta ou de ação política não mediada por instituições, partidos e representantes. Evidentemente, o modelo remete à ideia clássica da democracia direta como tipo ideal, sem cumpri-lo inteiramente, uma vez que as mediações nunca deixam de atuar, conectando diferentes procedimentos à energia da massa nas praças. O que conta, neste cenário dramatúrgico, são a memória idealizada e a linguagem comum, como se os eventos se citassem mutuamente, construindo uma constelação virtual de hiperlinks. Nesse contexto, tornam-se possíveis o orgulho, a vaidade, a máscara do heroi cívico, a política vivida em grupo como entretenimento cult antipolítico (mas também risco iminente de morte), a experiência gregária fraterna (ante um inimigo tão abstrato e fantasmático quanto óbvio e imediato, com o rosto policial e o sentido da tragédia), experiência que enche o coração de júbilo, exaltando os sentimentos e os elevando a uma escala quase espiritual, a convicção de que se pode prescindir de propostas e metas, ou da negociação de métodos para inscrever o curso da prática na vida da cidade, não só no chão das ruas.

(6) Que desafios este novo momento impõe aos jornais, à mídia?

Resposta: O mesmo que impõe a nós todos, a todos os que procuramos entender o que está acontecendo. É preciso saber menos e perguntar mais; julgar menos e escutar mais; prever menos e participar mais, retratando a experiência em curso e a compartilhando, na medida do possível. Criticar a violência de todas as partes, mas evitar os estigmas, as classificações, o vocabulário com que nos acostumamos a pensar e avaliar, como “vândalos”, “desordem”, “desorganizado”, “inorgânico”, “sem objetividade”, “disperso”. Esses são os nomes que damos à distância entre os eventos e nossos esquemas mentais. Vemos o que falta, porque não enxergamos com olhos abertos para ver. O que parece lacunar e negativo na realidade dos novos fenômenos talvez seja apenas o sinal de nossa impotência. Talvez estejamos olhando o espelho. Aposentemos as acusações simplificadoras, as associações precipitadas entre o que está acontecendo e o que já vimos antes. Não, não vimos este filme. Evitemos, por ora, a tentação de explicar.

(7) Que desafios este novo momento impõe a pais e mães?

Resposta: Eis aí uma bela e rara oportunidade de conversar em família sobre política, vida coletiva, escolhas individuais, caminhos alternativos, horizontes utópicos. Além do consumo e do próprio umbigo, o que dizer sobre o bem público? O que em nossa moral familiar diz respeito à vida em sociedade. Somos corresponsáveis pelas virtudes e deficiências da sociedade brasileira. Que tal dizer isso na mesa do jantar, desligar a TV e assistir, em família, aos documentários sobre nossa história política, de Silvio Tendler a Eduardo Coutinho, de João Moreira Salles a José Padilha. O Estado de Minas poderia sugerir títulos. Além disso, os pais e as mães poderiam convidar os filhos para participar da próxima manifestação, ou aceitar os convites deles. Eu fiz isso e vivi momentos inesquecíveis.

(8) Que desafios este novo momento impõe à escola?
Resposta: Acredito que a resposta anterior responde a esta pergunta.

Deputado Donadon ficará em cela individual, mas sem regalias

Ele já está no Complexo Penitenciário da Papuda

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) informou, por meio da assessoria, que o deputado federal Natan Donadon (RO) já está no Complexo Penitenciário da Papuda.



Ele foi encaminhado para a Penitenciária do Distrito Federal, uma das unidades do complexo, onde cumprirá a pena. Donadon ficará em uma cela individual, mas sem regalias, segundo o tribunal.

De acordo com seu perfil no site da Câmara dos Deputados, Donadon não tem nível superior. Porém, ele tem direito a cela individual por ter mandato parlamentar, conforme informou a assessoria do tribunal.

O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Donadon a 13 anos, quatro meses e dez dias de prisão pelos crimes de peculato e formação de quadrilha. Ele se apresentou ao superintendente da Polícia Federal, Marcelo Mosele, em uma parada de ônibus, na área sul da capital federal, na manhã desta sexta-feira (28/6). O deputado estava acompanhado de seu advogado, Nabor Bulhões.

É o primeiro caso de um deputado federal preso durante o exercício do mandato desde a promulgação da Constituição Federal de 1988.



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Leonardo Boff: o caráter das novas manifestações

 

Por Leonardo Boff

 

“Nutro a convicção de que a partir de agora se poderá refundar o Brasil a partir de onde sempre deveria ter começado, a partir do povo mesmo que já encostou nos limites do Brasil feito para as elites”


leonardo boff manifestações
Leonardo Boff é teólogo e escritor
Estou fora do país, na Europa a trabalho e constato o grande interesse que todas as mídias aqui conferem às manifestações no Brasil. Há bons especialistas na Alemanha e França que emitem juízos pertinentes. Todos concordam nisso, no caráter social das manifestações, longe dos interesses da política convencional. É o triunfo dos novos meios e congregação que são as mídias sociais.
O grupo da libertação e a Igreja da libertação sempre avivaram a memória antiga do ideal da democracia, presente, nas primeiras comunidades cristãs até o século segundo pelo menos. Repetia-se o refrão clássico: “o que interessa a todos, deve poder ser discutido e decidido por todos”. E isso funcionava até para a eleição dos bispos e do Papa. Depois se perdeu esse ideal nas nunca foi totalmente esquecido. O ideal democrático de ir além da democracia delegatícia ou representativa e chegar à democracia participativa, de baixo para cima, envolvendo o maior número possível de pessoas, sempre esteve presente no ideário dos movimentos sociais, das comunidades de base, dos Sem Terra e de outros. Mas nos faltavam os instrumentos para implementar efetivamente essa democracia universal, popular e participativa.
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Eis que esse instrumento nos foi dado pelas várias mídias sociais. Elas são sociais, abertas a todos. Todos agora têm um meio de manifestar sua opinião, agregar pessoas que assumem a mesma causa e promover o poder das ruas e das praças. O sistema dominante ocupou todos os espaços. Só ficaram as ruas e as praças que por sua natureza são de todos e do povo. Agora surgiram a rua e a praça virtuais, criadas pelas mídias sociais.
O velho sonho democrático segundo o qual o que interessa a todos, todos tem direito de opinar e contribuir para alcançar um objetivo comum, pode em fim ganhar forma. Tais redes sociais podem desbancar ditaduras como no Norte da África, enfrentar regimes repressivos como na Turquia e agora mostram no Brasil que são os veículos adequados de revindicações sociais,sempre feitas e quase sempre postergadas ou negadas: transporte de qualidade (os vagões da Central do Brasil tem quarenta anos), saúde, educação, segurança, saneamento básico. São causas que tem a ver com a vida comezinha, cotidiana e comum à maioria dos mortais. Portando, coisas da Política em maiúsculo.
Nutro a convicção de que a partir de agora se poderá refundar o Brasil a partir de onde sempre deveria ter começado, a partir do povo mesmo que já encostou nos limites do Brasil feito para as elites. Estas costumavam fazer políticas pobres para os pobres e ricas para os ricos. Essa lógica deve mudar daqui para frente. Ai dos políticos que não mantiverem uma relação orgânica com o povo. Estes merecem ser varridos da praça e das ruas. Escreveu-me um amigo que elaborou uma das interpretações do Brasil mais originais e consistentes, o Brasil como grande euforia e empresa do Capital Mundial, Luiz Gonzaga de Souza Lima. Permito-me citá-lo: “Acho que o povo esbarrou nos limites da formação social empresarial, nos limites da organização social para os negócios. Esbarrou nos limites da Empresa Brasil. E os ultrapassou. Quer ser sociedade, quer outras prioridades sociais, quer outra forma de ser Brasil, quer uma sociedade de humanos, coisa diversa da sociedade dos negócios. É a Refundação em movimento”.
Creio que este autor captou o sentido profundo e para muitos ainda escondido das atuais manifestações multitudinárias que estão ocorrendo no Brasil. Anuncia-se um parto novo. Devemos fazer tudo para que não seja abortado por aqueles daqui e de lá de fora que querem recolonizar o Brasil e condená-lo a ser apenas um fornecedor de commodities para os países centrais que alimentam ainda uma visão colonial do mundo, cegos para os processos que nos conduzirão fatalmente à uma nova consciência planetária e a exigência de uma governança global. Problemas globais exigem soluções globais. Soluções globais pressupõem estruturas globais de implementação e orientação. O Brasil pode ser um dos primeiros nos quais esse inédito viável pode começar a sua marcha de realização. Daí ser importante não permitirmos que o movimento seja desvirtuado. Música nova exige um ouvido novo. Todos são convocados a pensar este novo, dar-lhe sustentabilidade e fazê-lo frutificar num Brasil mais integrado, mais saudável, mais educado e melhor servido em suas necessidades básicas.